Eleições Europeias : esquizofrenia política

Aquilo que um dia fará com que eu me agregue a essa grande mancha abstencionista é esta doce esquizofrenia política que a todos embala: tivémos umas eleições europeias que começaram com com um puro e casto "Queremos discutir a Europa, o que a Europa é para nós, o que nós podemos ser para a Europa!", e acabaram com acusações sobre a roubalheira do BPN, mas que independentemente disso foram inequívocamente um plebiscito aos nossos representantes no Parlamento Europeu e a uma maioria que possa constituir o governo europeu, vulgo comissão. Só que agora todos os rescaldos da noite eleitoral começam nisto: terá ainda o nosso governo legitimidade para governar? Sócrates governará sozinho? O Bloco enquanto terceira força política, como irá funcionar com o PS? Manuela Ferreira Leite é finalmente candidata a primeira-ministra, etc, etc.

É claro que a análise política também é geradora de factos políticos. E hoje é irreversível a discussão sobre o impacto que as eleições de Junho terão sobre as legislativas. O que não quer dizer que seja razoável. Até porque há uma coisa para a qual a análise política não se mostra capaz: analisar o impacto que a análise politica sobre as eleições de Junho tiveram sobre a criação de uma opinião e previsão eleitoral àcerca da legislativas. Impôr a um voto para o Parlamento Europeu uma consequência sobre as legislativas é deliberadamente desrespeitar a expressão do voto do passado dia 7 de Junho e, subsequentemente, vulgarizá-la, desrespeitá-la. E esta banalização, vulgarização e desrespeito sobre as eleições europeias já tinha marcado presença na própria campanha o que poderá também ter influenciado o avanço da mancha abstencionista. A menos que ela se mantenha quer nas autárquicas, quer nas legislativas, o que duvido,