sábado, julho 18, 2009

Comportamento de risco: a manipulação política

Por razões que não quero partilhar, sou gay não praticante, o que me tornou desde logo parte visada na polémica sobre a inclusão dos homossexuais masculinos na lista das pessoas que não podem doar o seu sangue. A notícia não me foi servida assim, o que me foi lido foi que os homossexuais não podiam dar sangue porque eram um grupo de risco. O que, sendo deste modo, contrariava a nova prática da saúde pública vigente no nosso país de que não há grupos de risco, sim comportamentos de risco. Quando me sentei aqui era por isso para desancar o pau de marmeleiro sobre o presidente do Instituto Português de Sangue e em quem o apoiasse, incluindo a sua tutela directa. Na minha noite dos blogues, que ontem foi um breve olhar já noite alta, porque tinhamos andado no B.leza no São Luis a tirar os pés das misérias do existir e do andar - li ainda Os tempos que correm, cuja escrita sempre me amparou e inspirou muito e A Escrita em dia, cuja análise fina e certeira já não dispenso mas já nem tive tempo para escrevinhar qualquer coisa. Ainda bem. Porque ao ler este post da Sofia e a forma clarividente como esclarece que
"dar sangue não é um direito inalienável de qualquer pessoa, receber sangue com a menor probabilidade possível de conter algum destes riscos infecciosos é um direito de todos e um dever dos responsáveis de saúde."
percebi que ía dizer asneira da grossa. É necessário mais esclarecimento e provavelmente esse esclarecimento deve incluir também os profissionais de saúde e as normas de saúde pública. Se os homossexuais não são um grupo de risco mas apenas os homossexuais masculinos e se isto tem a ver com factores de natureza anatómica que os expõem mais, então deduzo de que todos os homens, desde que gostem de praticar a penetração anal façam parte de um grupo de risco. Ora então isso deve ser avaliado para protejer o nosso sangue. No entanto isto é uma coisa, a evolução que deve haver no tratamento deste assunto, outra coisa é reconhecer que face às metodologias de selecção actual a imposição de proibições à doação de sangue não é uma discriminação, sim uma - tendo em conta as limitações técnicas e financeiras que há na análise do sangue recolhido - natural protecção da sua qualidade . O que é um dever que deveremos exigir a todas as autoridades de saúde. Neste caso a reacção de alguma comunidade gay - a homofobia não é um comportamento de risco apenas da comunidade hetero - sobre este assunto, situa-se, para mim, na linha de um comportamento anti-social que se equivale ao do Papa sobre o preservativo.

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