Neste post, Sofia Loureiro dos Santos, do blogue Defender o Quadrado e participante no Simplex, escreve sobre os protestos educativos. Redigi a propósito um longo comentário. Porque atingi o limite de palavras a meio do fim do mesmo, e por ser uma oportunidade de rever a sua escrita num ambiente tecnicamente mais amigável, reponho-o aqui, com a sua revisão:
Gostaria que assim fosse, Sofia, até porque também tenho uma paixão pela educação, pela aprendizagem, seja formal ou não formal.
Mas não é. Contacto com muitos professores do ensino básico e secundário e falo com eles fora do contexto da retórica sindicalista. Confronto-os muitas vezes com alguma verborreia intransigente da FENPROF. E fico estarrecido pelo grau de desespero de profissionais e agentes educativos que até há uns anos faziam parte de um sistema que tinha lacunas muito grandes mas que mais ou menos ainda os estimava. E falemos a sério: quando um sindicalista como Mário Nogueira fala, a maior parte das pessoas de bom senso só pensa que quanto pior estiverem os professores melhor ele sente que estará enquanto lider sindical, mas quando a conversa é interpessoal e é entre ti e outra pessoa, um amigo, um conhecido, ele está a falar-te da sua vida, dos seus dramas. Ora quando ele te diz que a tragédia em que se tornou a educação o faz querer deixar de ser professor, então estamos a falar de algo muito grave.
Foi a forma de fazer politica deste governo que criou o maior movimento sindical que há memória numa classe profissional que sempre esteve muito dividida em múltiplas frentes sindicais e isso tem de ser reconhecido sem nenhuma jactância, com o máximo de apreensão.
Há muitas coisas que poderiam ser ditas sobre educação e em tempos tentei falar disso aqui. Mas a fundamental é que o Estado não pode concretizar a tarefa educativa sem os professores e que qualquer esforço para os demonizar, como foi assumidamente o jogo da ministra, é um jogo falhado. Porque até pode vencer no plano laboral, fazendo das escolas, como diz uma amiga minha que é professora, fábricas de parafusos. Mas perde no plano pedagógico, e isso é o que a escola deve fazer.
Bastava um argumento para desmontar toda a evidência deste post: um governo que, porque a sua proposta de avaliação dos professores parece incoerente ( feita em peças separadas para montar, com aplicações que qualquer pessoa se apercebe que são reduções tão grandes do conteúdo avaliativo que fazem com que a avaliação de desempenho fique coxa, sem pernas para avaliar) consegue fazer com que a maioria dos professores não se aperceba que o que a Fenprof não quer é a avaliação de desempenho é um governo que traiu as expectativas de, dotado de uma autoridade advinda de uma maioria absoluta, cumprir a sua missão de conseguir os compromissos necessários para a viabilização da tarefa educativa.
Nem me atenho a alguns aspectos que como referiu Stran, se passam exactamente ao contrário, ou seja, permitiu que professores menos experientes avaliassem outros mais experientes porque não creio que isso, a experiência, deva ser um valor em si mesma. Há experiências que o são, outras que não o são. Um professor menos experiente pode, em teoria, ter mais capacidades de avaliar um colega mais experiente. Não por ser menos ou mais experiente, mas por lhe terem sido fornecidos conhecimentos e instrumentos de avaliação que o outro não tem.
São questões mais complexas sobre as quais não tenho nenhuma competência para além da exposição do meu rol de lugares comuns.
Há uma coisa que é central e que o governo tem de saber encontrar forma de o assumir: ele realizou tarefas que mudaram o panorama educativo de uma forma radical mas falhou de forma reiterada e para mim incompreensível na dignificação da docência, actividade basilar para o desenvolvimento de um bom projecto educativo. Estabeleceu metas para a avaliação que contradizem as intenções da avaliação de desempenho em que fez centrar o essencial da sua intervenção . Para quê melhores professores se o que produzem é menos eficazmente avaliado?
Por outro lado há bandeiras programáticas que me enchem de orgulho. Enche-me de orgulho saber que as crianças no básico começam a ter inglês e enche-me de orgulho a rapidez com que essa medida começou a ser implementada. Aplaudo, com reservas, a extensão dos tempos educativos, que sendo uma medida boa em si mesma, foi também ela geradora de uma incompreensão pela forma como inicialmente foi implementada. O maior investimento no ensino profissional também me parece uma mais valia deste governo, e uma mais valia muito importante. Também as medidas integradas no plano tecnológico, em muitos casos um verdadeiro choque. O aplauso perante o ímpeto reformista deste governo na educação fica em muito condicionado à sua capacidade de assumir os erros cometidos.
2 comentários:
João Paulo Nogueira, vi o seu comentário no SIMpleX mas, se não se importa, respondo-lhe aqui.
Tem razão quando fala na inépcia política do ministério da educação, tanta como quem apontava inépcia a Correia de Campos. O que me pergunto é se seria possível de outra forma. Todos os recuos do Ministério da Educação em relação à avaliação do desempenho, todas as horas a negociar as alterações aos modelos da carreira docente e da avaliação com a FENPROF e outros sindicatos (desde, pelo menos, 2006), cujo objectivo foi sempre o não mexer, são agora criticados por quem criticava o autismo ministerial.
Não tenho dúvidas que muita coisa correu mal. A minha convicção é de que dificilmente poderiam correr melhor.
O mais importante, para mim, foi a introdução de princípios até agora impensáveis, a muito custo e com muita dor. Seja qual for o próximo governo não voltará atrás. Só pode melhorar.
Agradeço o seu comentário e o seu blogue. Respira-se bem aqui.
Nada sei sobre o assunto. Cheira-me que o teu "incompreensível" é uma opção tua, nada mais. Se quiseres analisar perceberás. Mas os teus parentesis intervalam-te ... ou por outra, nao fossem os teus leitores, dir-te-ia, os teus parentesis incompetentizam-te
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