sexta-feira, setembro 18, 2009

O Homem Livre

O Homem Livre, de Filipe Verde, ao qual chego através do José Flávio. Vou depois dar à entrevista que lhe fez Gustavo Rubim, e onde se entrevê o brilhantismo do pensamento do seu autor, por quem tenho uma simpatia verdadeiramente invulgar face ao pouco tempo de convívio que até agora tivémos. Deixo aqui um naco:
"Chama à filosofia de vida dos Bororo "naturalismo ético". Para eles não há moral sem compreensão da natureza e do lugar dos humanos na natureza? Ou basta dizer que no pensamento Bororo aquilo a que chamamos "moral" não existe?
Não quero resumir o que se condensa na ideia de "naturalismo ético", nem é esse o propósito da pergunta, suponho. Há que ler o livro para ter uma visão da coisa. Mas no essencial trata-se do seguinte: um corpo de ideias sobre o homem e a acção pela qual o conformar dos comportamentos às necessidades da vida social (a renúncia à mera lei do desejo e da violência) é concebido não como o resultado de uma aprendizagem cultural ou de submissão a uma coerção social, mas como expressão e manifestação de propriedades centrais da natureza e dos processos vitais (natureza que é a mesma para homens, jaguares e aranhas). Nesse sentido, a compreensão da natureza é aquilo a que nós chamamos "moral". Uma moral que está presente, e como!, de uma forma que permite conciliar o inconciliável: enorme liberdade individual com uma ordem e paz social que roça a nossa ideia de utopia, mas uma moral que nunca se formula como tal. É uma moral do mesmo tipo que encontramos na Grécia de Homero, antes de Sócrates e Platão a terem tornado uma coisa prescritiva, e de a moral se ter casado com a religião e com a filosofia, que a ergueram contra a natureza e nos tornaram muito inautênticos, cada vez menos livres. E muito neuróticos. "

1 comentário:

jpt disse...

na mouche. é um livro a ler, mesmo