Ao fim de muitos anos vou voltar a votar em Lisboa. Voltei à cidade. E de certa maneira, tenho sentido isso nos últimos tempos, é um regresso à emoção de votar. Quero ter a sensação de poder escolher. Digo sensação porque é essa a franja de existência que concedo à ingenuidade de que escolhemos alguma coisa. Quero ter a sensação de poder escolher. E também, é a primeira vez, excepto nas presidenciais, em que sei de antemão em quem vou votar. Geralmente caminhava para a minha mesa eleitoral apenas com uma certeza, a daqueles a quem queria derrotar. Desta vez o meu voto, na sua ambiguidade, é de uma clareza quase absoluta. O que me espanta, porque a campanha eleitoral, à esquerda e à direita, esmiuçados os confrontos, os debates, foi de uma pobreza confrangedora. E também não tenho medo de fantasmas, como o da maioria absoluta. Mesmo que espere muito sinceramente que ela não se dê. Olho para trás, para os últimos quatro anos, e percebo que a maioria absoluta só prejudicou o partido do governo. A começar e a acabar na educação: não acredito que na educação tivessem sido cometidos tantos erros se o partido do governo não se sentisse resguardado por uma maioria absoluta. A única coisa que não gostaria, a única coisa que me estragaria a paz dos dias, é se os partidos da direita tivessem mais votos que o partido do actual governo. Imagino, ou será antes, temo, que em Belém, com um rápido acordo pós-eleitoral, a frase, o presidente da república convidará para formar governo tendo em conta os resultados eleitorais, seria interpretada de maneira muito diferente da vontade da maioria dos portugueses. Por outro lado, um espectro político fragmentado e pulverizado à esquerda, também pode ser visto pelo seu lado positivo, já que esse aumento da representatividade parlamentar de um pequeno agrupamento político tornaria-o definitivamente, um partido de poder, com responsabilidades de iniciativa e não apenas de protesto. É assim com alguma tranquilidade que, na minha ansiedade, caminho para a minha mesa eleitora. Quando for votar irei lembrar-me apenas de uma coisa e não é coisa pouca nem de somenos importância: o cheiro a lavanda que ainda terei nos bolsos, de uma folhagem que apanhei ontem à noite.
3 comentários:
Imagino, ou será antes, temo, que em Belém, com um rápido acordo pós-eleitoral, a frase, o presidente da república convidará para formar governo tendo em conta os resultados eleitorais, seria interpretada de maneira muito diferente da vontade da maioria dos portugueses.
Não existindo nenhuma coligação expressa no boletim, qualquer coligação pós-eleitoral que junte dois ou mais partidos que tenham conseguido a maioria dos votos será representativa da vontade da maioria dos portugueses que se deram ao trabalho de ir votar... E isso é válido tanto à direita como à esquerda...
Aparte isso, partilho a tua emoção :) É bom poder votar, é bom poder escolher.
por um acaso tbm votei com umsa sensação de certeza de voto...há mto q não sentia isso
Sem dúvida, prefiro o cheiro da lavanda ao da rosa :-)
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