A morte de Mc Snake às mãos da polícia é uma profunda estupidez. E como todas as coisas verdadeiramente estúpidas deste mundo, pode fazer com que a estupidez do mundo entre em loop. O que fazer? Pedir a cabeça do agente policial que o matou? Desculpá-lo com a falta de formação sobre aquela arma que tão rapidamente disparou? Atirar a responsabilidade para Mc Snake por não ter parado numa operação stop?
Proponho uma muito simples homenagem póstuma a Mc Snake: antes de darmos palpites, comecemos por ir à página do Hip-Hop Tuga. Ouçamos Mc Snake. Sam The Kid. Aquele que é chamado um dos mais irreverentes valores de entre eles todos, Valete. E continuem, segundo as vossas preferências. Desliguemos por momentos as conexões invisíveis que nos ligam aos grandes lagos imaginários de uma vida mítica, seja lá o que isso for. Entremos, pela voz destes rappers em Chelas City, a Zona Ji. Vejamos aqueles vídeos do You Tube. Aqueles cenários de cidade oculta. O cimento das paredes. Sejamos um pouco desta vida, destas palavras, deste ritmo. Desta vontade, tão igualzinha à de todos nós de construirmos uma vida diferente. E agora sim, voltemos às questões essenciais: o que fazer?
Em primeiro lugar, claro que também tenho de pedir a cabeça do agente policial que matou Mc Snake. Não no sentido de dramatizar a sua responsabilidade, mas negá-la impede que a cadeia de responsabilização prossiga. Ele disparou, tão lesto, uma arma que mal conhecia. Há uma componente de responsabilidade individual que tem de ser assumida na actuação de um agente policial. Aliás, ele é o próprio a fazê-lo, segundo leio pelas notícias. Sou solidário com a sua dor, com a sua tomada de consciência. Deve ser terrível apercebermo-nos, num flash de segundo, que a lei, a tranquilidade e a segurança de todos nós podem implicar que haja pessoas que andem com deus num colt policial. Todos os outros polícias têm de poder olhar para este caso e saber que quando lhes damos uma arma que pode ceifar uma vida, não fazemos deles deuses, acima de qualquer arbítrio. Depois, exigo a responsabilização do Estado, através da instituição policial. A polícia tem de ser rápida a pedir desculpa à família (e a indemnizá-la). A polícia tem de ser rápida, a incluir na formação dos seus agentes todos os elementos que permitam que este tipo de incidentes possam ser evitados.
Enquanto tudo isto não acontece (o mais provável é que o rapper morto e o polícia fiquem como os únicos personagens de uma história da qual provavelmente não serão senão meros figurantes especiais!) ouçamos mais uma vez o hip-hop tuga. A cultura aproxima-nos tanto!
Sem comentários:
Enviar um comentário