segunda-feira, abril 05, 2010

Segunda-feira, depois da Páscoa

A segunda feira depois de um Domingo de Páscoa devia ser anulada pelo calendário e substituída por qualquer outro dia. Apetecia-me estar a namorar, a alargartar, a ler o jornal numa esplanada solarenga, podia ser no meu pequeno quintal, custa-me hoje o exercício do tempo e do espaço. Eu bem tento entusiasmar-me mas só me saí um bocejo estridente, arrastado, rejuvenescedor. Já me tentei inspirar no meu jornal diário, nada. Ainda tentei ir a meças com o Miguel Esteves Cardoso quando começou a falar da traição a Becket mas depois reconciliei-me com ele no fim do texto, quem traiu Becket foi esse seu sonho de teatro. Depois, ainda me deixei tentar pela primeira página, em caixa alta, com as aventuras do engenheiro técnico José Sócrates no país do cimento, do betão e dos construtores civis. Mas a quem interessa isto, que uma pessoa que elegemos para primeiro-ministro tenha sido um displicente técnico de engenharia? Saltei para o suplemento de Economia, uma entrevista com o mentor do projecto de reestruturação da administração central do estado (PRACE) cujos resultados, a seu ver ficaram muito aquém dos desejados. Vale a pena ler para se compreender um pouco do problema que carecemos mas também isso não me entusiasma. O cerrar de fileiras do Vaticano em torno de Bento XVI, bem como a tentativa de advogados ingleses de o levarem a julgamento, também não me comovem. É verdade que Bento XVI talvez seja, de todos os Papas, aquele que mais se empenhou contra a pedofilia no seio da Igreja, mas isso parece resultar menos de uma convicção pessoal de que a Igreja não deveria ter silenciado e protegido os crimes dos seus padres, mais da vontade de salvar a pele da Igreja da qual é pastor. Não, nada isso hoje me alenta, entusiasma ou me tira aquela sensação de que sem esta segunda-feira, o mundo estaria, senão melhor, pelo menos na mesma.

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