A imagem, aquilo que uma imagem consegue ser enquanto multiplicação da nossa vida, é algo que me emociona. Paradoxalmente muitas vezes bloqueio o fluxo de imagens, fecho os olhos para me focalizar, tanto que muita gente pensa que adormeci. Sempre que saio de casa tenho o Panteão ao meu lado esquerdo. É a realidade, aquela obra que resultou do investimento público dos nossos antanhos. Gosto de o ver, parece a cúpula de uma Basílica. Mas não me conseguiria emocionar. É o Panteão que tenho do meu lado direito, esse Panteão virtual, projecção de luz, que me guia e emociona. Como se fosse Alice, transponho esse patamar de irrealidade e fico por ali, de costas para o real. Os telemóveis permitem-nos, quotidianamente, montarmos e desfazermos esta emoção. Ainda ouço, "-Pai, pare de ser japonês!", mas não lhe ligo. Estou numa dimensão do espaço-tempo que é infinita, um universo em expansão. À medida que o tempo passa tenho cada vez mais a necessidade de ser honesto comigo e com os que me cercam: a exponencialidade, a multiplicação infinita da matéria - nem que seja precária, bastaria uma pedrada ou uma bolada no vidro para que tudo aquilo desaparecesse - seduz-me muito mais do que esta finitude do real. Tinha escrito que me apaixona e depois revi: seduz-me. É uma sedução que é ar, apercebo-me muitas vezes, depois. Sou ar e terra. É por causa da minha paixão pela finitude do real, que tanto me seduz este fenómeno da multiplicação do real que a imagem opera.
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