Há muitos anos um amigo meu, cinéfilo de quatro costados, ensinou-me a ver uma ficha técnica. Tudo começou porque ele se manifestou contra aqueles bárbaros que se levantavam da cadeira do cinema logo que a palavra end surgia. Para ele era uma falta de respeito por todos aqueles que estavam envolvidos no filme. E porque eu lhe manifestasse algum estranheza por ele não compreender o aborrecimento do que seria estar sentado diante de um écran a negro onde escorriam dezenas de letras brancas, corridas em grande velocidade, ele explicou-me o que eu poderia ganhar, aguentando mais um pouco na cadeira. E eu agora já sei o que o filme, enquanto processo de fabricação da ficção se revela no correr longo e demorado de uma ficha técnica. Onde podemos perceber também o nível de sofisticação que o cinema atingiu, enquanto produção do imaginário. Ou a compreensão do peso fincanceiro que a indústria do cinema tem. O time code do telemóvel não enganava: tinham sido mais cinco minutos e trinta segundos de filme, que vi, sozinho, no escuro da sala. O que é perturbador é que grande parte da eficácia do cinema enquanto dispositivo de alimentação da nossa sede de imaginário, pode advir da forma como ela oculta o seu processo de fabricação. É claro que poderemos argumentar que não, que o making off é a desocultação do processo de fabricação. Não será assim, insisto. O making off, enquanto ficção sobre a produção do filme, faz, quanto a mim, parte do processo de ocultação que é necessário para que o filme apague as pistas sobre o modo como "ideologicamente" produziu sentido.
1 comentário:
Bom!
Um abraço, JPN!
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