Uma palavra breve. O tempo escapa-nos. E com o tempo, o sabê-lo. O próprio saber. Não tenho nenhum sentimento dentro de mim. Não o digo com garbo. Constato-o. Constato que aquilo a que a partir de agora chamarei de sentimento não é suficientemente canino para eu poder emoldurar ao pé dos lustres, das pratas, das palavras exdrúxulas. Quanto muito seria uma borboleta, se assim o quisesse. Não quero. Fecho-me àquilo que o seu bater de asas, metáfora do mundo, cicia. Olho-te com um desespero nunca visto. Olho-te como se te dissesse,
agora é que se foi, o que perdemos. A minha vida é de uma inutilidade tão tamanha que nem sirvo para odiar. Eu sei, eu poderia propor-me para mestre-escola, propor-me a humanidades, salvar assim a família, a tença, o próprio salário.
Não posso. Seria mentira. E eu já me adestrei a tudo. A perder pai, irmãos, amigos. Os próprios sentimentos, o ódio, o amor. O pensamento, que não a ideia de pensar. Mas não é perder o pensamento viver num mundo que dele não carece?
É. Sobreviverei a isso também. Deixo-me apenas este luxo, esta bizantinice: um pouco de verdade. Não digo muita. Tendes razão. É pouca. Nem é bem uma verdade que é. É uma sombra. Um resto que ficou do grande banquete. Basto-me assim.
2 comentários:
ai quim, que aperto que me deu no peito ao ler estes palavras.
nao é perder o pensamento viver num mundo que dele nao carece?
e se em vez de pensamento lhe pomos sentimento também dá.
Uma só palavra: abraço.
~CC~
Enviar um comentário