sexta-feira, março 25, 2011
Para mudarmos remos de saber onde está a nossa força
Quando olhamos para a realidade politica e nos vemos a partir de quem nos representa, viramos a cara para o lado, negamos que sejamos nós neles. É uma reacção quase infantil entre representante e representado, tal e qual como vi, em lugares onde trabalhei com crianças com problemas de auto-estima, quando fazíamos jogos com o espelho. E que fugiam da sua própria imagem. Ou que baixavam os olhos, envergonhados, quando se miravam. O quê, eu sou este? Custa a aceitar que aquela perfeição que em nós habita possa ser tão imperfeita. Não há construção identitária que não comece por aqui, pelo desmame dessa imagem de perfeição que tanto nos securiza mas que também, tanto nos limita o crescimento. Ou que provoca a destrutividade, a violência aniquiladora. Arno Gruen avisa-nos tanto sobre este fenómeno profundamente humano. Eu não sei que grau de percepção disso tem cada uma das pessoas que desceram comigo a Av. da Liberdade. Sei apenas que esta circunstância agorética, presencial, de descermos uma avenida em conjunto nos começa a transformar por dentro. A sermos capazes de ouvir algumas coisas duras que temos de escutar de nós mesmos. Não as podemos escutar enquanto não soubermos que as podemos mudar. Somos livres de não entender o quanto a exploração humana e a própria barbárie civilizada a que chegou a nossa presença neste mundo, estão intimamente ligadas à forma como vivemos. Podemos começar por olhar para imagens como as dos salários monstruosos dos gestores públicos, entre outras anormalidades da nossa vida social, mas um dia teremos de chegar às imagens mais aproximadas, àquelas que falam mais de nós, àquelas de que somos mais responsáveis. E aí vamos ter de perceber que em vez de podermos gritar palavras de ordem contra um Estado que não realiza todos os nossos sonhos temos de ser capazes de ter uma vivência solidária dos recursos disponíveis. É por isso que o dia de hoje pode ser tão importante. Porque se não podemos escutar as coisas duras que temos a dizer a nós mesmos enquanto não as pudermos mudar, também só as poderemos mudar quando descobrirmos que somos fortes e que onde está a nossa força. E hoje descobrimos onde ela está. No estarmos juntos. Juntos todos aqueles para quem a ferida da representação causava sucessiva incapacidade de perceberem quando e como podiam participar porque já não se reviam no voto bem comportado e com regularidades bem determinadas. Podemos descer uma avenida juntos, e depois virem dizer que havia, naquela multidão pacífica - ou seria, pacificada?- gente da extrema esquerda, da extrema direita, da direita, da esquerda, do centro.
Somos fortes, esta é a nossa força.
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