quarta-feira, março 30, 2011

Quem disse que a arte não liberta?

O real como imposição cansa. Estou sentado numa tasca de bairro. É hora tardia, venho sempre em desespero quando já é a hora do pessoal da cozinha vir almoçar. Diverti-me a imaginar nas duas cozinheiras mais velhas, fortes, atarracadas, as mulheres jovens que a cozinheira mais nova, a da esquerda, é. A esta imaginei-a mais velha. Velha e gorda como as suas outras duas colegas de copa. Este real assim, um carreirrinho, cansa. De repente, para não as querer torturar no meu olhar de mirone, descubro-as no azulejo da parede. E parecem-me personagens de Bordalo, de Goya, deVelasquez. Ganham uma dimensão de revolta contra o circulozinho vicioso em que se enovelam as suas vidas. Quem disse que a arte não liberta?

1 comentário:

Graza disse...

Tive a curiosidade de copiar esta foto e trabalhá-la digitalmente! É verdade que sim, a mim ocorreu-me Vermeer.