Quantas vezes diante desta pulsão descontrolada para pixelizar o real me pergunto se este é uma doença, uma mania, uma religião, um mitema? Qualquer coisa, e não necessariamente boa, é. Até uma certa altura a minha relação com a realidade foi dominada pela ideia de rigor. Sempre que comprava um novo equipamento fotográfico ou de vídeo ía analisar cuidadosamente a sensibilidade, a exposição, procurando uma performance que me desse a sensação de que o real, a sua riqueza, a sua diversidade, a sua explosiva paradoxalidade, pudesse ficar contido na pequena amostra capturada pelo frame, fragmento do visivel. Hoje já não confio nada nesses artíficios e prefiro a inteligibilidade do borrão. Gosto quando a imagem se parece pintura, quando ela desfaz o autoritarismo realista e se entrelaça com o imaginário.
1 comentário:
O real cans provavelmente por não ser real, Quim.
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