sexta-feira, outubro 28, 2011

Repôr a confiança no (meu) mundo

Não creio que nisto seja muito diferente dos demais, há dias em que não me apetece confrontar-me com os outros, em que desejaria passear invisível na multidão ou pelo menos, que ninguém me olhasse nos olhos. E digo isto mesmo tendo a consciência de que o meu brevet de ser-em estado-de-exposição tem mais horas de registo do que muitos dos que me lêem. Mas há dias em que não nos apetece, e contra isso não há nada a fazer. Durante muito tempo temi, por antecipação, esses momentos. Se tinha de fazer um espectáculo, dar uma aula, fazer uma comunicação, uma conferência, pensava, e se naquele dia eu estiver virado para dentro? E angustiava-me. Andei em psicólogos, psicoterapeutas, fiz terapia reiki, actividades radicais como asa dela, yoga, sexo tântrico, tentei de tudo. Mas no momento certo, quer dizer, no momento errado, a minha confiança estatelava-se em cima do estrado, do palco, do palanque. Não havia nada a fazer. Até que um dia encontrei uma máquina de tirar a timidez do mundo. Numa loja de roupa da moda jovem. Uns sapatos coloridos, encarnados, vermelhos. Basta-me calçá-los e consigo andar perfeitamente na multidão, sabendo que ninguém me vai olhar para os olhos, para a cara. Chega a ser cómico seguir o olhar de surpresa dos outros quando os seus olhares encontram os meus sapatos. Agora, sempre que tenho um acto de exposição pública, coloco-os na mochila. Para o que der e vier. É tão simples descomplicar o (meu) mundo.

2 comentários:

Doramar disse...

Quando eu era (ainda) mais jovem também tive umas brutas sandálias vermelhas. Ainda ninguém ousava andar de salto e as minhas plataformas já me punham ao nível de um r/c alto! E eu lá de cima sentia-me o máximo, sem falsas modéstias :-)

urze disse...

Bigfoot!