sexta-feira, maio 30, 2014

MISTICISMO


No outro dia, a propósito de alguma coisa, disseram-me que eu era místico. Gostava de ser. Místico faz uma rima engraçada com cístico, com rístico, com fomístico. Até com calaregístico. Tudo coisas que eu nem sei se existem mas que, a existirem, inundariam a minha vida de uma espiritualidade incandescente. Não só não sou místico como deixei de ter fé. Em deus, nos homens, nas mulheres, nos meninos e até nos pepinos. Se eu fosse mulher diria que se foi a fé com as primeiras águas. Talvez não haja um momento tão propício para nos desapegarmos do deus remanescente que em nós insiste do que o culminar da gestação. Como não tenho desses fenómenos marsupiais invento para mim um outro marco: deixei de acreditar mais ao menos na mesma altura em que comecei a fxder. Não me devolveu isso a crença na existência divina mas pelo menos aproximou-me longitudinalmente do demónio. O que não deixou de ser de alguma forma um reencontro possível com o além.

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