terça-feira, julho 08, 2003

Casal Lilás O álbum de fotografias esconde-se atrás do vulcão impossível. Quando os sinais não perduram no âmago dos gestos ácidos, torna-se necessário convocar as labaredas para que o fogo retorne à casa-mãe. Há uma memória sonâmbula no atrevimento de falar de amor. Na tensão do crispar das amêndoas doces a que vulgo, chamamos olhos, desalinhados no tapete persa, sem autorização de voo. Eles são os fálicos objectos do nosso inexplicável êxito de marfim. O não-sofrer labrego. Na circunscrição da irremediável previsão do inexacto, os putos multicolores.Imagens abruptas do pecado, da serpente sem maçã livre. Moroso resfolegar daquilo a que, por convenção torpe, chamamos mãos, mesmo quando empanturradas de trampa mole. Sombra enquinada de uma leve perturbação que, na infância das noites, nos conduziu à passerelle das imagens grávidas de salinidade. Brincadeira de suicida escrupuloso. Três metros por seis de pus, espuma e fúria amarela. O amor obrigatório de um permanecer que se esvai, pose do fóssil ressonante, estrela fugitiva no ziguezague do eterno. Entre a parede e a casa levanta-se uma tempestade, uma catástrofe, o uivar de um desmoronamento, o intranquilo choro da criança lilás. O soporífero não abranda a morte que trepa pelas paredes alvas. Acontece uma cor superlativa com que principia o desastre do universo incandescente. Ao atravessar a passadeira zebra o casal lilás é apanhado em contravenção. A máquina vomita o cartão de plástico e,airosamente, avisa que o céu não está à venda. Éo código, explica envergonhado o homem lilás, é o código. Pode ser que seja, exclama a metafísica subterrânea que sangra no passeio. O casal lilás gagueja, intromete-se no gingar maravilhoso do mundo. Há uma palavra por ferir. Gestos por sangrar no tecido poroso do bairro, amálgama retorcendo-se de gana, nos passos sem retrovisor pintando a lilás o céu que não se vê. O homem peida-se heroicamente.

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