quarta-feira, julho 02, 2003

D. MARIA II E O VELHO/NOVO IPAE "João Grosso demite-se do D.Maria II" - Capital "Paulo Cunha e Silva novo presidente do novo IPAE" - Publico O meu comentário é perfeitamente vadio em relação ao principal disto tudo, e nem chega a ser um comentário. É uma pergunta, uma daquelas perguntas que nos assaltam a meio do beco escuro em que se vai tornando a nossa racionalidade, até porque o enfoque dado à formalização da demissão, pelo SEC, assim o legitima. João Grosso demite-se do D. Maria e Paulo Cunha e Silva aceita ser director no mesmo dia? Não, parece que não. Parece que João Grosso se demitiu ontem e que a carta foi recebida hoje. Parece que Paulo Cunha e Silva ser o novo presidente do novo IPAE ainda será uma coisa para depois da promulgação do estatuto do novo Instituto e para depois da resolução do problema dos subsídios. Uma coisa boa de cada vez: os subsídios depois da sua existência virtual terão existência terreal. Segunda coisa boa: O velho IPAE desaparecerá e nas suas cinzas erguer-se-á um novo IPAE. Claro que se o novo IPAE for pior que o velho, ou seja, for o velho mais novo, talvez não seja assim tão bom, mas nisso nem me meto. É novo, é bom. Mas a pergunta, que a maldade já se foi, mantém-se: Então porque é que a notícia sobre Paulo Cunha e Silva abre hoje a página da Cultura do Publico? E como a notícia foi escrita pelo menos ontem, será que quem soprou aos ouvidos da Joana Gorjão Henriques esta "falsa notícia" sabia que João Grosso de tinha demitido? Mas o Público não sabia, porque se soubesse tinha publicado. Ou não? E como não deverá ter sido Paulo Cunha e Silva, já que ele não se mostrou nada entusiasta em assumir o cargo sem um conjunto de iniciativas de vulto, terá sido o MC/SEC? E se foi o MC/SEC já sabia da carta de João Grosso ? Ou que ele se tinha demitido? Há uma coisa que é muito estranha no comunicado do SEC sobre este assunto. Diz que não há nenhum motivo audível ( pode haver aqui uma grande dose de honestidade, João Grosso queixa-se disso mesmo, de não ser ouvido), que João Grosso não tem nenhuma autoridade para refilar porque, anos a fio, nunca se lhe ouviu nada sobre o D.Maria ( outra vez o problema do audível, começo a desconfiar....), e aqui há um ataque pessoal que revela alguma incomodidade. E que também não é bonito, principalmente porque não é verdade. Justiça lhe seja feita, houve duas coisas que sempre se ouviram de João Grosso: a declaração de um grande afecto pelo D. Maria II e a de que nem tudo ía bem naquela casa. Depois fala-se de um problema de relacionamento e formalidade, dizendo que não é bonito mandar uma carta para o Jornal e no dia seguinte para o Ministério. Não é fino, é Grosso, tem de se reconhecer. Mas tanta importância dada ao tempo, num paí­s em que Ministros já foram demitidos pelos Jornais, tem como condão alertar-nos para a existência dessa dimensão, a temporal, nas nossas vidas, e fazer-nos torcer o nariz às coincidências deste entra e sai na cultura nacional. Até porque o que fica em aberto nas declarações de João Grosso é a acusação de não haver neste momento uma política para a cultura e para o teatro. O que nunca foi um problema de maior ou que causasse amargos de boca aos nossos governantes até ao dia em que Manuel Maria Carrilho foi para o Palácio da Ajuda. A partir daí­ soubemos que a não existência de uma política cultural e teatral não era uma mal endémico era um problema de governação. E daí que sejamos, como governados, mais exigentes. E para o reconhecimento desse nosso direito, talvez fosse melhor começar por não relevar tanto se o João fala Grosso ou fino, ou se manda as cartas a tempo e horas, mas de atacarem politicamente a questão. Esquecendo o João, e lembrando-se de nós, governados, esclarecendo-nos.

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