terça-feira, setembro 16, 2003
Ódio aos Jornalistas
Assinado por JPH (que já tem demonstrado verve blogonauta, o seu post que eu prefiro é aquele em que fala de um esparramanço enquanto dava o biberão ao seu filho), cuja prosa viva e polemizante é, regra geral, um bom antídoto para a modorra do nã te caias, nã te rales, Glória Fácil escreveu agora um post intitulado Ódio aos Jornalistas que parece um autêntico contra senso.
Até porque dá a ideia de que sim, de que a alternativa ao corporativismo anti jornalistas será o corporativismo dos jornalistas. Que o bálsamo para o ódio aos jornalistas será o amor aos jornalistas. A ironia do post a convocar uma assembleia de vespas, não desconvence.
E para além disso aquelas alusões ao país de outrotempo que se manteria, como resquício de pensamento, decerto que têm ponta que se lhe pegue mas não aqui, perorando sobre este efeito que, no fim do estio, trouxe um crescendo sobre esta ideia dos "blogues dos jornalistas". Até, porque não é dificil deixar de reconhecer uma certa filiação desta designação com o trabalho classificativo que Maria José Oliveira, no Público começou a fazer sobre a Blogosfera. "Os blogues dos Letrados", dos "Homens do Pontapé na Bola", etc. Ou de alguma amplificação que este jogo de constituição da equipa de Glória Fácil, com novas aquisições a fazerem mais uma ligação ao mundo dos jornais. Ou de um ruído que já vinha de fora, em que alinharam Pedro Rolo Duarte, Luis Delgado e Prado Coelho de critica à Blogosfera, e que, naturalmente, também se reflectiu nesta questão dos blogues dos jornalistas.
Custa-me a perceber que este fogaréu todo tenha sido atiçado com um post de Pedro Mexia em que ele fundamentava uma decisão editorial do seu território. É uma decisão pessoal. Paradoxalmente, para enterrar o machado de guerra. Houve outros posts que falaram sobre o anonimato dos blogues, e alguns deles muito bem, como Senhor Carne, mas nada disto a justificar esta inflamação.
A vitimização parece-me, neste caso, uma reacção imponderada que só têm o condão de atear o fogo que pretende apagar. Deixem arder. Se não chegar ao património edificado, deixem arder mais um pouco. Lidamos todos mal com o populismo e a popularidade. Os populares e os populáveis. Mas talvez não seja despropositado um voto de confiança na blogosfera, no entendimento mais profundo que aqui surge, na forma como pensamos que estarmos aqui, seja o tempo que isso for, é um tijolo mais na grande muralha do pensamento, de um pensamento que definha todos os dias às mãos da propaganda, da mentira. Olhe-se o Abrupto, o Aviz, o Outro, Eu, o Muro Sem Vergonha, o Blog de Esquerda, o Dicionário do Diabo, o Reflexos de Azul Eléctrico, entre outros. Todos eles, para bem ou para mal, sofreram uma transferência de capital mediático. Como o Glória Fácil. Não se trata de que "quem não quer ser conhecido não lhe veste a pele". Não. Não estamos, ainda, aqui, num circo. Trata-se de que é possível existir vida para além desta atmosfera carregada, este ar irrespirável de perdigotos e jactâncias do ser.
Vou agora a correr buscar o meu filho à creche, para depois esparramar-me no sofá. Tenho quase a certeza de que JPH estará também a fazer o mesmo, pensando nessa altura que respirar fundo, afundando-se no sofá não é a mesma coisa do que assobiar para o lado.
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