sexta-feira, outubro 17, 2003
filosofia em 2ª mão & teatro : notas soltas
acorro ( é exacto, corro a) à eterno retorno, para o lançamento do livro com dois textos teatrais de francisco luís parreira. chego lá já perto das 11h30 e, sorte minha, a sessão anunciada para as dez ainda não começou. o prolongamento da anterior sessão com rita ferro, fernando pinto do amaral e o editor da dom quixote é, aparentemente o primeiro responsável. trata-se de uma conversa sobre o amor e ninguém parece querer abandoná-la. são asssim as tertúlias e será também por isso que a elas voltamos, voltaremos. quanto à sessão de francisco luís parreira, sou obrigado a abandoná-lo, cinderela retardada, já passam das duas da madrugada.
a decadência da arte. desde já a apresentação do livro de francisco luís parreira tem um atractivo. o autor a ser alguma coisa, nas suas palavras, será um ensaísta, e é de ideias, em segunda, terceira, quarta e primeiríssima mão de que falaremos todos a seguir. algumas, as de francisco luís parreira, são, senão polémicas, facilmente indutoras da polémica. com crueza fala da decadência da arte nos dias de hoje, uma arte que não é, nem pretende ser, pensamento, justificando assim a reedição, hoje, do discurso platónico em que este apelava à expulsão dos artistas da cidade. para ele esta desgraça de que foi acometida a arte está em grande parte ligada a esse pecado da procura da autenticidade, uma fraude do pensamento, sendo que este é entendido na melhor tradição racionalista. é natural, assumo, que este retrato da conversa que ontem se teve na eterno retorno pende escorreitamente para a caricatura, e que esta favorece aquilo a que agora aporei ao debate. não sei como lhe fugir, apenas posso colocar a sinalética para prevenir os mais incautos que poderiam estar a pensar que eu estaria a falar do que lá ontem se disse e não apenas daquilo fui agarrando para poder prolongar mais um pouco um debate que me atrai;
- a decadência da arte de que fala francisco luís parreira, sendo contestável, não me suscita alguma contestação. já aprendemos todos uns com os outros de que não é aquele que aponta o dedo à decadência que é responsável por essa decadência, como muitas vezes parecemos ser levados a pensar. e que pensar a arte a partir da sua decadência é tão produtivo para este obscuro ofício de procurarmos sentido, como pensarmos a arte a partir do seu movimento, isto aceitando de que a estagnação, é ideia que se pode associar à ausência de cadência. por outro lado como não reconhecer, e esse é a mola que empurra a ideia de flp, na proliferação de objectos artísticos ufanamente orgulhosos e exuberantes da sua demissão de serem mundo outra vez, ou de, por outras palavras, serem lugar de pensamento, um sinal, senão na sua morte clínica, pelo menos da decadência da arte nos dias de hoje?
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