quarta-feira, outubro 01, 2003

NON, ou a glória dificil e não vã

No Dia Mundial da Música, chega-me hoje da Zona Non , o anúncio de um silêncio que entristece: "1.Out.2003 Lamentamos ter de comunicar a todos os leitores o fim da revista digital ZonaNon (ZN), e também, de alguma forma, o termo da experiência de intervenção crítica, na área do digital, iniciada em Março de 1996 com a NON!, e ininterruptamente mantida até agora. Existem dois motivos fortes para esta decisão: - A evolução dos conteúdos, do aparato técnico e dos formatos que circulam na rede, tem produzido alterações muito significativas ao nível do seu universo de leitores. O fenómeno dos blogs, por exemplo, levou um grande número de colaboradores e de frequentadores de publicações análogas - e também da própria ZN - a alterarem, por vezes acentuadamente, os seus hábitos de navegação na rede. Esta situação exige uma contra-ofensiva, capaz de integrar inovação, redefinição de conteúdos e melhorias na programação e no grafismo, exigindo disponibilidade de meios que neste momento não podemos assegurar. - Tudo isto se torna ainda mais difícil com a indisponibilidade momentânea da maioria dos membros da actual redacção, motivada por motivos de ordem pessoal e profissional, para continuarem a manter durante os tempos mais próximos o mesmo ritmo de trabalho. De uma tentativa para prosseguir nestas condições resultaria, inevitavelmente, a decadência da revista. Assim, a decisão de fechar a ZN tornou-se inevitável, restando-nos pedir a compreensão dos nossos leitores, de velha e de recente data. Se bem que pensemos regressar, teremos de o fazer num outro formato, sob outro título e apenas quando as melhores condições estiverem reunidas. Poderá ser daqui por três meses, pode demorar um ano. Ficamos, pois, com os contactos de todos os inscritos na newsletter: serão eles os primeiros a saber das novidades, caso elas existam. Entretanto, os arquivos da ZN e da NON! irão permanecer em linha, para já no endereço habitual. Saudações a todos e, esperamos, até breve. O editor, Rui Bebiano " [uma notícia triste, esta. tristeza também porque, como todos os verdadeiros acontecimentos, é um daqueles que nos espelham e nem sempre a imagem nos é favorável. por mim falo, quando rui bebiano e a sua reduzida equipa iniciaram o NON, comecei, intimamente, a acreditar mais no principio de realidade que há neste país dos cidadãos, como dizia num poste recente a Natureza do Mal. foi o meu primeiro link dos favoritos na rede, isso lembro-me. cheguei a colaborar lá. e se ler é escrever como afiançava Roland Bhartes, então sempre colaborei com o NON. assisti impávido e expectante à sua primeira paragem, para reorganização, e tive a alegria de a ver tornar, mais forte do que nunca, na ZONA NON. leio "O fenómeno dos blogs, por exemplo, levou um grande número de colaboradores e de frequentadores de publicações análogas - e também da própria ZN - a alterarem, por vezes acentuadamente, os seus hábitos de navegação na rede. " e revejo-me totalmente neste parágrafo. revejo-me sem alegria na face, como quem se dá conta. o tempo nem sempre em nós cresce a vida, o ímpeto. creio bem que por vezes, e tudo me diz que esse pode ser o caso, decresce em nós o viver. esta também é a forma de contrapor algo ao irrespondível na amizade, que encontrei nos dois comentários à minha entrada anterior, e me comove, claro, seja ela breve, daqui, no caso do Outro, Eu , ou longa, dos tempos de um outro fórum, o DN Jovem, falo do Luís Graça, . escrevemos, escreveremos sempre, nada disso se duvide, a escrita é gesto que se impôe como tentativa de revelação de um mundo que não nos é dado. escrevemos, escreveremos sempre, mesmo sabendo que com palavras ocultaremos demasiadas vezes o que, ainda com palavras, tentamos, tentaremos, sempre, trazer à luz de uma mundividência partilhável. mas se disso tivermos de fazer lugar, que seja apenas um lugar de passagem. edificar o templo, arrasá-lo, pedra sobre pedra. não nos festejemos ainda, ou, festejando sempre, não nos festejemos nunca. uma notícia triste, então. possivelmente há nela uma alegria escondida, e é dela que, espero, nos viremos a ocupar em seguida. ]

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