sábado, outubro 25, 2003
a primeira imagem do resto da minha vida...
Demorei tanto tempo a colocar aqui uma imagem que tive todo o tempo do mundo para especular qual seria. Tinha pensado que, sem sombra de dúvidas, a primeira seria a capa do segundo livro do meu pai. É um livro sobre a vida e a obra do padre Abel Varzim, um desafio, e uma encomenda que lhe lançou um dia D. Serafim. Foi o seu último livro, tendo deixado dois projectos incompletos. Um outro desafio de D. Serafim e aquele que deveria ser o seu primeiro livro, pelo menos assim o esperavam os seus amigos mais intimos. Linha Quebrada, um livro que tinha começado a escrever antes mesmo dos seus filhos nascerem, e onde traçava o percurso de um jovem de uma família pobre que foi para o seminário para poder estudar e que sem dar por isso já era sacerdote. Era a sua própria história. No outro dia, ao ler um post do luís dedicado ao seu pai acorreu-me a água aos olhos. Mesmo sendo um antigo padre, díscipulo e admirador de Mons. Lefébre, o meu pai não só sempre me protejeu da intolerância religiosa, como também me incentivou a pensar pela minha própria cabeça. Na estante lá de casa Sarte, Camus, Virgilio Ferreira, Alberto Ferreira, Bertrand Russel, abriam caminhos. E aos dezoito anos ofereceu-me um livro, "Com a morte na Alma", com uma dedicatória breve, eram sempre breves as suas palavras, "para o quim ler e reflectir comigo", creio que já falei nisto.
Talvez por isso esta imagem que também é um livro, um livro aberto. E ao qual, folha a folha, me dedico desde então. A ler, a decifrar. Na minha peça "Naufrágio do Galeão" (disponivel na minha página em ET) há um personagem, um Físico, que atravessa os tempos procurando a sua amada e a encontra no ciberespaço. Fecho os olhos anuindo com esta utopia, talvez também tu, meu bom pai, andes por aí ao sabor das ciber vagas e um dia passes por aqui. É para ti, em primeiro lugar, que a lanço.
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