Ao lembrar-me do Zé, recordei-me do

cabral, o joão cabral, um caboverdiano que, assalariado como eu, sofreu as passas do algarve com os gestos racistas de uma quantidade de imbecis cujo nome não decorei. só me lembro de um dos dias em que já farto daquelas pequenas picardias, de lhe darem os trabalhos mais chatos, de lhe chamarem nomes, ele tê-los mirado com um olhar duro e ter dito: " eu corto uma orelha". claro que o joão não fez nada disso mas que a partir dali ele era tratado com respeitinho, isso era. lembro-me de nessa tarde o ter encontrado à janela, a janela que dava para a pista e vê-lo a esvoaçar também: "-Então joão, estavas a pensar em meter-te num avião e fugir daqui." -perguntei. Responde logo ele: "- Estava a pensar que gostava de ir para casa brincar com a minha mulher!"