quarta-feira, agosto 18, 2004

Climax

8.15. Tocaram à campainha. Redobradamente. Atendi primeiro em sonhos e depois levemente. Tinha perdido a cabeça dois antes. Farto de dormir nun colchão insuflável do Lidl, ou no do meu filho, que tinha sido da minha ex-mulher em miuda, depois de ler um post da Carla de Elsinore sobre a insónia e de ter lido alguém a intrigar-se pelas minhas horas tardias perdi a cabeça, fui-me ao Climax. Ortopédico. Não se discutem euros quando se trata do sono. De um justo, até prova em contrário. Ei-lo que chegava. Só o esperava à tarde, até tinha deixado recado à porteira, com indicação para o colocarem no corredor. Não foi preciso. Já estava ali. Olhe, por favor, ponha-o já em cima do estrado, se não se importa. Adeus, até uma próxima. Tiro a capa do colchão roufenho do Lidl. O lençol. Atiro indolentemente o edredon para cima da cama. Antes de mergulhar, olho a paisagem. Agora, por uns míseros segundos, compreenderei melhor aqueles que matam, assassinam, estiolam por essa insana pulsão para possuirem coisas e, às vezes, como coisas, os seres. Concedo-me um a dois segundos de face de proprietário a cobrir-me a alma indigente. Mergulho, num afundanço que ficará para a história do meu repouso. Uma hora e meia depois acordo, desperto, afago pela primeira vez o colchão, o primeiro sono do resto da minha vida.

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