domingo, agosto 08, 2004

O tempo da nossa vida

Sobrevivi ao pó e às moscas de Carvalhais, às danças africanas, europeias, aos grupos com nomes impronunciáveis, às filas enormes para o pequeno almoço, para o almoço, para o banho, ao calor da tarde sem sombra disponível, ao sono em quarto (tenda) minguante, ao corpo tratado, apaparicado, massajado (que maravilhoso aquele massajador de cabeça, a ti que o inventaste e nunca serás lembrado pelos teus bons serviços à comunidade, o meu bem hajas), aos coup d' oeil, aos flirts de ocasião e mesmo, às próprias ocasiões. Está bem, estou um pouco rouco, mas o roufenho na voz deve-se mais ao banho gelado no poço azul em Santa Maria da Trappa. Sobrevivi também à evolução do próprio Andanças, território onde se torna mais predominante a cultura rasta, freak (os rótulos não são meus, please, ) e onde são cada vez mais raros os trintões e quarentões como eu, um pouco nostálgicos de um modo de vida alternativo, numa evocação que mistura movimentos do desenvolvimento local, da cultura popular, de nostalgias politicas mais ou menos indefenidas, das músicas e danças do mundo e até do charrismo minguante mas pontual, incorporado e rotinado, . Sobrevivi a tudo isso menos ao afecto. O afecto, essa ideia de vida que é em si mesma dinamismo, abraço e terno com o indefenir.

2 comentários:

Anónimo disse...

É um gosto lê-lo. Pensei nesse Carvalhais como o de S. Pedro do Sul, mas Carvalhais há muitos.

Musas Esqueléticas

Anónimo disse...

Às tantas é o mesmo Carvalhais, se esse poço azul é em Santa Cruz da Trapa, no rio português que tem três nomes, Vouguinha, a Vouga (aí, um eventual, claro) e o Vouga para lá da serra.

Musas Esqueléticas