segunda-feira, setembro 27, 2004

A lingua escondida debaixo do palato

Uma das coisas que me impressionou mais quando Hadji falava era o seu castelhano perfeito, bem silabado, articulado, sem alguma nódoa ou marca do jugoslavo. Onde é que tens a tua língua, perguntei, escondida debaixo do palato, talvez tenhas respondido, disseste: "- A minha opção foi, ou trabalho numa fábrica e sobrevivo - Hadji haveria de trabalhar numa fábrica de sapatos cerca de quatro meses enquanto as receitas com os espectáculos não chegavam - ou aprendo o idioma, me meto a escrever, a dirigir, a representar, não havia outra saída, não tinha volta a dar...- donde, me surge que nós pessoas somos máquinas de sobreviver incríveis?, respondi - A menos que nos deixemos cair em desespero, confirmaste e percebendo a tua história esse a menos que nos deixemos cair em desespero ganha uma dimensão épica.

3 comentários:

Anónimo disse...

Ou a menos que se desista, ou que as "nódoas" que revelam a origem sejam impossíveis de tirar precisamente por serem vistas como tal e não como prova de que se gosta de doce de ameixa, por exemplo... É triste que a medalha do vencedor seja o "passar por" nativo, é triste só poder comer o doce de ameixa ao domingo, entre portas, sem barulho, quando o belo é ver numa mesma pessoa as "nódoas" que mostram que a vida anterior continua ali, na comida, na roupa, na língua, no andar, no cumprimentar, no sentido de humor, no rir, no cabelo, no ar...
O que nos vale é a memória e o passar a palavra.

Anónimo disse...

Esqueci-me de assinar em cima...

Éclair

Anónimo disse...

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