segunda-feira, setembro 27, 2004

Vizinha do lado

Não sei o seu nome. Talvez tenha sabido e esquecido. Mas não a esqueci. Embora estivesse há muito pouco tempo no prédio quando ela foi parar ao hospital. Durante todo o tempo em que lá esteve eu perguntava amiúde pelo seu estado. É a minha vizinha do lado. Ao invés da minha vizinha da ponta, começou bem. E como lembrava alguém, não há segunda oportunidade para uma primeira impressão. Tenho assim uma vizinha boa e uma vizinha . Esta última, logo que cheguei, veio meter-se comigo. Olha com quem! Não interessa desfiar o curriculum, mas sou um glaciar para quem acha que pode mandar em mim. E tantas vezes, agravando a situação, não é por eu ser eu, mas porque para estas pessoas, todos podem ser bem mandados. Excesso de mãe, não sei, sempre errei no diagnóstico. Felizmente que entre mim e a minha vizinha está a minha vizinha boa. Senti por isso redobradamente a falta dela. Envelhecer devia ser assim tão amável como o seu olhar. É tão doce, tão prestável que até me envergonho de deixar coisas que possam ser completadas. Por exemplo a roupa estendida na corda, como aconteceu hoje. Quando cheguei a casa, já fazia noite, ouço a porta abrir. Trazia a minha roupa toda dobrada, como se tivesse sido passada a ferro. E ainda ouvi um conselho carinhoso, não se esqueça, para a próxima meta a roupa de cor a trinta graus, é mais fácil de estender, fica logo passada, a sério?, respondi eu, essa é a temperatura que eu usava para a branca, é precisamente o contrário, diz ela, sabe o que é, é o andar a pedir explicações a homens, lembro-me, quando veio a máquina de lavar roupa fiquei histérico, telefonei ao júlio, ele devia saber, com dois filhos. afinal sabia, mas ao contrário.adeus vizinha, se precisar bata aqui. penso de mim para mim, amanhã vou-lhe comprar bombons, há tanto tempo que não tenho ninguém a quem oferecer uma caixa de bombons.

2 comentários:

inconformada disse...

:-)
(beijo)

Carla de Elsinore disse...

:). agora quero uma his´toria da vizinha má.