quarta-feira, novembro 24, 2004
Bater com a porta para despertar o silêncio
Há alguém que escreve e que se debruça intensamente sobre o gesto de escrever. Também sobre o amor. Nem sempre o leio, não porque haja momentos em que a sua escrita seja menos sincera, menos verdadeira, menos intensa. Apenas porque nem sempre me apetece a escrita debruçada sobre o gesto escrevente. E não só por isso. Há blogues que se lêm de maneiras diferentes e Escrita Ibérica leio-a assim: quando preciso dela vou lá e raramente não trago duas ou três palavras frescas ns bolsos de caminheiro. Hoje, para além dessa ideia que me soou tão verdadeira de que os mortos escrevem melhor do que os vivos, trouxe isto: "pensar muito sobre o que se vai escrever é perder a verdade da escrita. Pensar sem que nada se realize é perder a verdade. Lembro-me de fugir para o meu quarto e bater com a porta para despertar o silêncio."
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1 comentário:
Oi
“…Pensar sem que nada se realize é perder a verdade” Pressupondo que o pensamento não é uma realização. Agora se o pensar levar a mudanças de pensamento à procura da verdade, nossa verdade…realiza-se e consequentemente ganha-se a verdade (mais uma vez “nossa verdade” ). E porque não escrevê-la? Muitas vezes pensa-se melhor a escrever.
Ninguém Se Conhece a Si Mesmo
Julga que se conhece, se não se construir de algum modo? E julga que eu posso conhecê-lo, se não o construir à minha maneira? E julga que me pode conhecer, se não me construir à sua maneira? Só podemos conhecer aquilo a que conseguimos dar forma. Mas que conhecimento pode ser esse? Não será essa forma a própria coisa? Sim, tanto para mim como para si; mas não da mesma maneira para mim e para si: isso é tão verdade que eu não me reconheço na forma que você me dá, nem você se reconhece na forma que eu lhe dou; e a mesma coisa não é igual para todos e mesmo para cada um de nós pode mudar constantemente. E, contudo, não há outra realidade fora desta, a não ser na forma momentânea que conseguimos dar a nós mesmos, aos outros e às coisas. A realidade que eu tenho para si está na forma que você me dá; mas é realidade para si, não é para mim. E, para mim mesmo, eu não tenho outra realidade senão na forma que consigo dar a mim próprio. Como? Construindo-me, precisamente.
Luigi Pirandello (escritor italiano, 1867-1936), in 'Um, Ninguém e Cem Mil'
Bjs MM
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