domingo, novembro 07, 2004

Um Longo Peregrinar

Em 14 de Outubro de 1974, a Assembleia Geral da ONU reconhecia a OLP como representante legítima do povo palestiniano. Um mês mais tarde, Arafat dirigiu-se à mesma Assembleia com a sua famosa locução: “Venho com a arma de combatente da liberdade numa mão e o ramo da oliveira na outra. Não deixem que o ramo da oliveira caia da minha mão. Repito: não deixem que o ramo da oliveira caia da minha mão”. Abu Ammar, ou Yasser Arafat, dedicou-se a um longo peregrinar pela vida. Já tinha criado o movimento Al Fatah, quando decidiu afastar-se da Liga Árabe e empreender a sua luta contra Israel. Torna-se o líder incontestado da OLP, organização criada para a defesa dos territórios da Cisjordânia, de Jerusalém oriental e de Gaza, e nos anos setenta organiza as suas forças armadas, os fedayines e a Organização Setembro Negro, responsáveis por acções terroristas sangrentas que vão servir o seu objectivo de dar visibilidade ao movimento, com vista à sensibilização do mundo para a causa palestiniana. Refugiou-se em países como a Jordânia e o Líbano, iniciou um périplo por vários estados procurando o apoio destes e de diversos organismos. Mais tarde, evoluiu para a exigência da criação de um Estado palestiniano, com igualdade de direitos para judeus, muçulmanos e cristãos. No entanto, as sucessivas tentativas falhadas ao longo das duas últimas décadas para obter um acordo com Israel, os múltiplos avanços e recuos das negociações e, a partir de 2000, com a intransigência de Ariel Sharon, dá-se a quebra dos principais acordos de paz e o colapso negocial foi inevitável. Os canais de comunicação entre ambos os lados foram-se fechando. Prevaleceu a linguagem das armas, levada a extremos pela acção de diversos grupos terroristas extremistas palestinianos e pela opressão asfixiante de Israel sobre a população civil palestiniana. Cada um dedica a vida àquilo que pode. Poder como capacidade de realizar cá fora o que está dentro de cada um, ou poder dos que embatem no mundo e este vai determinar a acção do indivíduo irremediavelmente. Que trabalhos podem erguer um homem para o mundo na sua dimensão mais nobre e mais trágica? Apesar dos múltiplos atentados contra a sua vida, das acções directas em campo de batalha, de ter escapado incólume a acidentes, Arafat sucumbe à mais elementar lei da vida, num leito de hospital, escapando à lógica da máquina da guerra. Estão de facto a mantê-lo ligado às máquinas, numa tentativa de se ganhar tempo para se resolverem questões como o local onde vai ficar sepultado ou quem vai ser o seu sucessor? Eu acredito que sim. Mors ultima ratio.

2 comentários:

Anónimo disse...
Este comentário foi removido por um gestor do blogue.
JPN disse...

:)