terça-feira, janeiro 18, 2005
O tsunami patrocinado
Martunis, oito anos, vestia de verde e vermelho quando foi tolhido pela onda gigante (apeteceu-me começar no mesmo tom delicodoce, à beira do vómito, que quase todos deram à história). A SIC pegou (bem) numa imagem que vale por mil histórias e Portugal emocionou-se. Comoveu-se até à Selecção (uma espécie de grau zero do patriotismo). Na mesma lógica de grau zero, a Selecção Portuguesa entendeu que devia patrocinar esta tragédia pessoal, que assim abençoada acabou por representar não a soma de todas aquelas vidas perdidas e arruinadas na Ásia mas a visão tacanha cá do burgo. A saber: a tragédia que é a nossa forma de olhar o mundo.
Senhor Scolari, jogadores em geral e demagogos particulares: sei que a camiseta e o calção são importantes, mas mesmo que tivesse sido a visão das cores da Selecção salpicadas pelo tsunami o que vos acordou para o abalo de 26 de Dezembro, que tal uma doação em ajuda humanitária, mantimentos e dinheiro que chegasse a vários tailandeses, indianos, vítimas?? Uma casa para Martunis? Uma vinda a Portugal para assistir a um jogo de futebol? Imagine-se a Benetton a fazer pesquisa no terreno para encontrar todas as etiquetas encharcadas que foram vítimas do tsunami. Oferecendo um ano de roupa colorida a cada cliente martirizado.
Estamos a falar de vidas? Não, não estamos. Estamos a falar da nossa humanidade.
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2 comentários:
Independentemente de tudo para aquela família fez a diferença e a humanidade, essa, é feita de gestos, não de palavras.
as palavras quando escritas com fervor e verdade valem mais do que gestos, podem mover montanhas!
parabéns por estas palavras,
mariagomes
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