segunda-feira, abril 11, 2005
O erro de João Paulo II
Aqui. Não terá sido o único mas este foi de palmatória. Uma das melhores designações que encontrei para o Vaticano foi a de "gerontocracia mais equilibrada da história moderna". Não deixa de ser inquietante a forma como estes homens de batina e saiote se consagram e se devotam tão prostradamente a uma mulher que não concebeu, são tratados exaustiva e incansavelmente, desde o Vaticano até à mais humilde aldeia de Portugal, por mulheres que publicamente se resignaram e não conseguem imaginar como seriam os seus pequenos mundos se abrissem de par em em par as portas do senhor à espantosa diversidade de vida e do género.
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6 comentários:
Não espreitei nenhum dos links. Pelo que se for injusta, desde já as minhas desculpas.
Não é fácil, acreditar nos homens de batina e saiote e ser Mulher. Não é fácil por em causa. Não é fácil, quando o coração nos diz que é por aí, e a "ração/tradição/aculturação", nos força, por outro lado...
Não entendas mal, mas hoje, quando olho para as lutas dos outros, acho-as sempre mais fáceis que as minhas... As minhas é que são lixadas, é que doem, é que me empurram e puxam e não me dão descanso...
As dos outros... resolvi-as numa penada.
Os resultados das minhas? Só os outros as vêm. Eu estou tão colada, que não vejo nada... Mas, há-os tão distantes, que nem sequer as reconhecem.
Retirar as "palas" e olhar como os cavalos de repente e sem aviso, pode cegar-nos...
:-)
ração... = razão
Há uns meses atrás, juntaram-se algumas senhoras, que costumam ir à mesma Missa a que eu vou indo, e fizeram um pedido sério ao Padre. Existe um coro, rapazes e raparigas de várias idades, que cantam nessa igreja. O Altar desta igreja é grande, é muito grande. Talvez por ser uma igreja recente, talvez porque está associada a um tipo de ordem que ainda confunde respeito com esmagamento.
Graças a um homem, o Padre a quem fizeram o pedido, ficou só como um pedido triste.
O coro não deveria cantar no Altar, não porque estivessem apertados, não porque as músicas não respeitassem algum credo, apenas porque o coro tem mulheres e as mulheres foram feitas para estar no lado de cá. Nunca no Altar, onde apenas existe lugar para os homens.
Desculpem lá novamente
Pois é ião, a verdade é que a Igreja é feita de Homens e Mulheres.
Igrejas, há em que é como tu dizes. Outras em que as mulheres, não só cantam, como acompanhama missa (como acólitas)... Numas as mulheres, não distribuem comunhão, noutras, são as únicas...
É como tudo... lados bons e lados maus... Mas é uma pena, que assim seja.
Partilhas
felizmente, para mim, um homem soube responder a um grupo de mulheres. assim, continuo a ir a essa missa ouvir o coro cantar a estrela da manhã
Errar é humano e o facto de o ter feito só o aproxima mais de tudo e todos a que ou quem quis chegar.
Papa João Paulo II, o Peregrino
Na minha opinião, o pontificado de João Paulo II é claramente positivo. Teve mais aspectos positivos que aspectos menos positivos. Antes de fazermos um qualquer balanço, é preciso dizer que não existem pessoas perfeitas, nem feitos perfeitos. Não existem, simplesmente. Por isso, se olharmos apenas para os aspectos menos bons teremos um balanço parcial, assim como se olharmos apenas para os aspectos bons. Um verdadeiro balanço deve incluí-los todos.
João Paulo II foi um peregrino por excelência. Acredito que em todas as viagens que realizou, o seu testemunho, a sua proximidade com o povo de Deus, em todo o mundo, foi, de longe, o ponto mais positivo do seu pontificado, e o que distinguiu dos outros pontificados.
João Paulo II foi também um homem de muita fé, e somos todos testemunhas disso. Sobretudo, pela dedicação e empenho demonstrado nos seus últimos anos de pontificado, onde a sua debilidade física e o seu sofrimento foram sempre bem visíveis.
João Paulo II foi também o Papa das nossas vidas. Eramos ainda crianças quando o João Paulo II foi eleito Papa e não me lembro de nenhum dos seus antecessores. Lembro-me da primeira vez que João Paulo II esteve em Portugal, e tentei ir vê-lo perto de mim. Vi-o passar ao longe. Hoje, confesso, que naquele tempo, não fazia a mínima ideia do que significava o Papa. Era apenas um padre ou um bispo, pensava eu, ou talvez alguém diferente pois andava sempre de branco.
Voltei a ver o Papa na segunda vez que esteve em Portugal, desta vez no Parque Eduardo VII, em Lisboa. Percorri quilómetros a pé, com a minha Mãe, e nunca o cansaço me foi tão fácil. Nessa altura, tinha a certeza que João Paulo II era alguém especial. Era alguém que conseguia mover milhões de jovens, vindos dos quatro cantos da Terra, num intenso dia de calor, no pó, na terra seca.
Em muitas alturas da minha vida senti-me muito longe de Deus. Nessas alturas, nem a fé de João Paulo II, ou o seu testemunho de vida, nem a sua relação com os jovens, me ajudaram a compreender que a vida não tem sentido se não não lhe dermos um sentido. Mas mesmo assim, nunca deixei de lhe dar valor.
Por todos estes motivos, não estranho que o funeral de João Paulo II tenha tido a presença das mais diversas pessoas, dos mais diversos quadrantes políticos, económicos, culturais e sociais. João Paulo II foi coerente com a sua fé, com as suas convicções. Foi um exemplo de fé e oração. E isso moveu-nos a todos: cristãos, judeus, muçulmanos, budistas, hindús, agnósticos e até ateus. É, sobretudo, fora da Igreja que João Paulo II gera maiores consenso, se não mesmo, a unanimidade. João Paulo II foi um profeta da Paz. Da Justiça. Do Amor.
Como já disse anteriormente, não há pontificados perfeitos. Por isso, também o pontificado de João Paulo II teve os seus aspectos menos positivos. E estes variam de acordo com quem faz o balanço. Para mim, talvez este ou aquele aspecto poderia ter sido diferente. Para outra pessoa, talvez até esse aspecto tenha sido um aspecto muito positivo.
Posso referir alguns para se compreender melhor:
1. Hoje, a Igreja Católica é mais Romana (centrada no Vaticano) que antes de João Paulo II, e isso afasta-se do Concílio Vaticano II. O próprio cardeal Ratzinger assumiu, recentemente, que houve alturas que a Igreja poderia não ter sido tão centralizada. Como disse alguém, a culpa foi também dos bispos que nas conferências episcopais se demitiram das suas responsabilidades.
2. O seu conservadorismo, sobretudo na moral sexual, afastou milhares (ou talvez milhões) de pessoas da Igreja, e faz com outros tantos não se aproximem da Igreja por essa razão. Aborto e contracepção são coisas distintas e é preciso dizer e compreender isso.
3. A (excessiva) devoção mariana. Não se pode colocar as revelações particulares acima da doutrina da Igreja, ou da própria Sagrada Escritura.
4. «Mais do que falar da Teologia da Libertação, temos de falar da libertação da Teologia», dizia, com razão, um professor de um amigo meu. Não se pode perseguir aqueles que pensam de forma diferente da Igreja, só porque pensam de forma diferente. Não é possível chegarmos ao século XXI, e vermos que os grandes teólogos do século XX foram, praticamente todos, numa situação ou outra, privados da sua liberdade em fazer Teologia.
5. A participação dos leigos, em particular das mulheres, na vida da Igreja. Pela escassez, cada vez maior, de vocações sacerdotais, e não havendo um milagre em breve que inverta a situação, é preciso compreender, de uma vez por todas, que a tão apregoada nova evagelização far-se-á, sobretudo, pelos leigos. Estes precisam de preparação e formação, de assumir verdadeiramente as suas responsabilidades e obrigação de anunciar e sermos testemunhas do Evangelho.
O próximo Papa será diferente de João Paulo II. Não há duas pessoas iguais. Será certamente um bom Papa. Que compreenderá os desafios que se colocam à Igreja e ao mundo nos dias de hoje, e a Igreja saberá dar a melhor resposta. É preciso ter esperança. Não concordo com aqueles que afirmam que a Igreja precisa de um novo Concílio. Teremos esgotado o que assumimos há quatro décadas no Concílio Vaticano II? Voltaremos a ter um novo Concílio apenas para ajudar a por em prática o anterior? Não vejo que seja necessário. Basta relembrar o Vaticano II e, de uma vez por todas, pô-lo em prática.
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