quinta-feira, junho 23, 2005

Verdade e consequência

Tinha passado um ano neste jogo. Sempre que escolhia a verdade, as consequências eram mais do que inesperadas. Escolhia como quem colhe maçãs vermelhas e maduras numa paisagem agreste, encostando-se ao tronco daquela árvore improvável. No meio da estepe dos dias, meses, um ano. Só ela via a árvore. Só ela cheirava as maçãs vermelhas e maduras. Nada a rodeava, tudo se passava junto àquela raíz de tronco de macieira forte e primordial. Colhia as maçãs, escolhia a verdade. A verdade colhia-a como um comboio que galga vidas sem respeitar o vermelho da passagem de nível. Escolhia as maçãs, colhia a verdade. Não via o encarnado dos céus que assinalava a passagem dos dias, dos meses, um ano. No fim desse período, olhou finalmente para os ramos da árvore, todos ao mesmo tempo. Colheu o ano, o ano inteiro, e mordeu-o com força. Não era vermelho, não sabia a verdade, e não havia nada de consequente na estepe à sua volta.

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