sexta-feira, julho 01, 2005

Fazedores

Houve uma altura em que fazer deixou de me seduzir. Percebi que por mais que fizesse era quase tudo ilusão. É confortável o mundo visto desta inactividade. Ausente dos lugares da crítica. Sou quase-perfeito. Depois, quando deixo a minha virtualidade apodera-se de mim um vazio. Fiz tudo ao contrário. Ainda há pouco entrou uma rapariga aqui na drogaria. Pediu-me bicabornato de sódio. Para o avô. Meti a escada de madeira e faltavam-me uns degraus para chegar lá. Desci e fui buscar um outro escadote. A este sobravam-lhe degraus. A moça olhava para mim, condoída. Nunca acerto à primeira. Amanhã, é sábado. Vou vestir um fato bonito e sentar-me à porta da Julieta. Chamo-lhe Ju. Trato-a por Ju desde que ela se foi embora com um marinheiro alemão que um dia desceu aqui ao cais d'alfama. Abreviando o nome tenho a ilusão de abreviar a dor.

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