3 x ao dia

Tenho uma revolução adiada dentro de mim. Sei qual é. Não sei ainda a senha, a contra-senha revolucionária. Vou-me lembrando dela cada vez mais amiúde. Eu pensava que sonhar e desejar o que se não tinha ou não poderia ter era sofrimento desnecessário. Não é. Sonharmos com a vida que queremos só nos poderá fazer bem. Somos sonho, desejo, fantasia. Descobri-o quando deixei de fumar. Parecia que tinha sido de um momento para o outro. Fazia-me mais valente que assim fosse. Mas não foi. Comecei a deixar de fumar aos vinte anos quando comecei a não querer fumar pela primeira vez. E por aí adiante. Um dia, tal como a crisálida que amadurece no seu desígnio de borboleta, fiz-me voo. Também assim será com a vida que quero. Vou sonhar com ela todos os dias a partir de hoje. Um pouco de manhã, quando acordo. Outro tanto depois de almoço, quando me estiro. E agora, à tardinha, neste poente mágico. E em breve será essa a minha vida. Mesmo que seja tarde, não será tarde de mais.