terça-feira, setembro 06, 2005

O irreparável de reparar nas coisas

A nossa vida em algum sitio será melhor por causa da escrita nos blogues. Saio para a rua e penso em catrapiscar algo. Um apontamento de vida. Qualquer coisa que mereça o texto. Sem dar conta a minha atenção torna-se maior. Reparo mais. Parece-me bem, reparar mais. Reparo na cor das árvores. Caiu folha antes do Outono nas ruas da Baixa. Um homem sentado no meio da rua, com uma garrafa de vinho. Seria mais fácil que ele fosse um excluído-tipo. Um qualquer excluído. Mas não é. Há cada vez mais excluídos-atípicos. Não há nenhuma guerra mundial declarada mas o universo está mundialmente em guerra. E como reconhecer que o mundo está em guerra provocaria um alarmismo social que nos tornaria proscritos, excluídos, cada um de nós tenta viver no lado do mundo que parece não estar em guerra. A Europa não está em guerra por exemplo. Este não reconhecimento tem um efeito terrível: atrasamo-nos na mobilização, na escolha do lado da barricada que nos deveria convir. Na nossa ingenuidade pensamos que se não escolhermos atrasamos a guerra. Somos bondosos, ingénuos e acreditamos numa vida melhor para os nossos filhos mas somos péssimos estrategas. Acabamos por combater do lado errado da guerra. O universo, o nosso mundo, o país, a cidade, estão com mau aspecto. Reparar nas coisas é feliz por que nos liga ao mundo mas é também de uma tristeza sem fim. Por que reparar no mundo é darmo-nos conta do irreparável que existe hoje no nosso mundo.

8 comentários:

Sarah disse...

...
hum.
em branco?
estás bem man?

Sarah disse...

por algum motivo obscuro porém reparável ;) não conseguia ler nada para além do título deste post...

Sarah disse...

pois amigo mas julgo que se não doer é porque não reparaste bem

Anónimo disse...

PARECE-ME QUE ESTE "NOSSO MUNDO" É O SEU MUNDO INTERIOR. O QUE EXISTE NELE DE "IRREPARÁVEL".
O SEU OLHAR DAS COISAS É A DOS TÍPICOS "EXCLUÍDOS ATÍPICOS".
AO CONTRÁRIO DO QUE ESCREVE, TODOS NÓS JÁ FIZEMOS AS ESCOLHAS "DO LADO DA BARRICADA" QUE NOS CONVÉM.
NA HISTÓRIA DO CIVILIZAÇÃO, NUNCA HOUVE TANTA MOBILIZAÇÃO, TANTA SOLIDARIEDADE, TANTA DOAÇÃO GENEROSA E HUMANITÁRIA ORGANIZADA. TANTA INVESTIGAÇÃO CIENTÍFICA PARA ADIAR A MORTE. TANTAS PESSOAS A COLOCAREM A SUA VIDA EM RISCO PARA SALVAREM A DE MEIA DÚZIA. TANTAS PESSOAS A UTILIZAREM NO SEU TRABALHO AS SUAS CAPACIDADES EM NOME DA QUALIDADE, DA HONESTIDADE, DA COMPETÊNCIA.
NÃO HÁ QUALQUER TIPO DE INGENUIDADE, ACREDITE. TRABALHAR COM A REALIDADE NÃO O PERMITE.
OS OUTROS, OS ACRÍTICOS, OS QUE SE BARRICAM ATRÁS DO PRÓPRIO PENSAMENTO, OS IMBECIS, OS INDIFERENTES; OS OUTROS, AQUELES QUE VIVEM A SAQUER O MUNDO, A VAMPIRIZAR O MUNDO, A TORNÁ-LO CADA VEZ MAIS ESQUÁLIDO. TODOS ESTES TAMBÉM ESCOLHERAM. E SÃO TODOS FARINHA DO MESMO SACO.
DEIXEMO-NOS DE PRETENCIOSISMOS, PORQUE ATÉ O PESSIMISMO É PRETENCIOSO, QUANDO SE PRETENDE REFLEXÃO, E QUANDO NÃO É MAIS QUE O PRÓPRIO/INDIVIDUAL MAL-ESTAR NA CIVILIZAÇÃO.

Pedro disse...

É deveras interessante deparar com as duas opiniões expostas neste blogue: a do post e a do comentário. Fazem lembrar a distinção de Eco entre posições apocalípticas e integradas. Leva-me, pessoalmente, a duas possíveis explicações: a dada pelas expectativas e a oferecida pela vivência subjectiva. A primeira justifica a visão apocalíptica por apresentar objectivos bastante elevados, apesar de algumas evidências estatísticas revelarem, aparentemente, que o mundo melhorou; contudo, poder-se-á perguntar se essa aparência não esconderá um mundo essencialmente económico, e medido por tal, que relegou para segundo plano as exigências éticas que desde sempre se fizeram, mas quase nunca se viveram. A segunda remete-nos para a experiência pessoal de cada um; a minha subjectividade vive o mundo de um modo único, nenhuma outra o vive como a minha, daí que relativamente ao mesmo fenómeno (pelo menos, aparentemente) seja possível ter experiências opostas, dependendo da perspectiva e de uma certa emocionalidade particular que se estabelece com as coisas. Para complicar, poderíamos ainda acrescentar o problema das atinomias da Razão kantianas. De qualquer modo, julgo que há que exigir de uma forma emocionalmente consequente, procurando, contudo, desvelar a beleza que, ainda assim, é possível fazer cada olhar descobrir nas coisas. Abraço.

Anónimo disse...

Só para dizer que gostei deste textinho. E que também reparo melhor.

cbs disse...

Reparei agora neste anónimo (nada pretensioso) que sabe tudo e ralha sózinho em voz alta.

Não sei qual o lado dele, só tenho a certeza que não é o meu.

Abraço Jpn

JPN disse...

obrigado sara, pedro, cbs.