segunda-feira, outubro 03, 2005
Eclipse
A verdadeira vocação da tristeza é ser um véu que cobre todos os nossos dias. E é por ser essa a sua natureza e condição, o seu projecto, que ela acaba por ser tão enganadora. Das primeiras vezes que se assoma ao rosto humano parece que vem para lhe trazer a beleza, a poesia que o riso, a bonomia, não saberiam nunca contar-lhe. É por isso que há pessoas que nos dizem que temos um sorriso triste e dizem-nos como se rasgassem um enorme elogio na nossa face. A tristeza só é verdadeiramente triste quando cumpre a sua vocação totalitária. Quando tudo cobre de um desânimo, de uma desistência sem fim. Quem nunca ficou triste de todo ou triste sempre, tem a sua desculpa para se deixar enlear por essa voz embriagante da tristeza. Mas para quem sabe que a vida triste não carrega nem mais um pouco de verdade, há um dever político diário: o optimismo.
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1 comentário:
Posso elogiar este texto.
Posso, também, dizer que cortei a última frase. Senão não o poderia elogiar.
O que é isso do "dever político" sobre a tristeza?! Ou sobre o "dever político" de praticar o optimismo?
Que axioma tão estranho. É quase anti-social. É a desfiguração da própria antítese.
Há deveres políticos e direitos políticos.
O que emerge da alma, do coração, do fígado, do cérebro, ou o que lhe queira chamar, não é um dever, nunca será um dever, nunca foi um dever, e de político, por favor, reveja a significação do termo.
Insisto: posso, no entanto, elogiar todos as outras linhas deste quase texto perfeito.
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