quinta-feira, abril 06, 2006

Paninhos quentes

Senti-me antigo quando subi os degraus da mezzanine, com um alguidar de água quente e dois panos novos. Ainda pensei, e se juntar alfazema?, e tive pena que naquele momento não tivesse as mézinhas do avó Figueira, a àrvore em cuja sombra cresci. Eu nunca tinha feito isto mas devo-o ter feito com uma convicção que te sossegou. Depois gostei de tudo. De mergulhar o pano da água e de o embeber naquele caldo aquecido. De o torcer para não te molhar mais do que o necessário. Deliciei-me também com o teu esgar de prazer. O teu prazer é a bíblia que imprimo diariamente nos meus sentidos. Senti claramente que a tua barriga era de terra. De terra-mãe. E eu o agricultor meticuloso, arando, arando o chão. E a certa altura substituiste o pano já meio arrefecido pela minha mão quente. Agora és tu, o teu sangue, o meu. Acabaram-se os paninhos quentes.

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