terça-feira, julho 04, 2006

O Planeta do Futebol I

Sem dúvida que há muita estranheza na ideia de que a manipulação do real que nos traz de uma forma totalitária o futebol, possa ser um crime contra a humanidade. A sua própria proferição tenta situar-se nessa ambiguidade ao utilizar uma figura que tem valor jurídico e não apenas ético e político. A ideia é essa mesma, a de instalar a estranheza. Quando digo que para mim é um crime contra a humanidade estou em primeiro lugar a lançar uma acusação para uma lacuna da forma como regulamos um campo fundamental das sociedades contemporâneas: a comunicação de massas. Aquilo sobre o qual estou a tentar pensar não é fácil. E alguma irritação de onde parto também não me facilita a vida. O futebol é um dos acontecimentos mediáticos mais fascinantes, desenvolve-se no território do lúdico, da emoção, da empatia, da projecção, e não fosse o inserir-se num dispositivo reprodutor de sentido que tanto é válido para promover a copa do mundo como outro qualquer fenómeno, seja uma catástrofe, seja uma guerra, não valeria a pena a impopularidade a que se sujeita todo aquele que pretende reflectir sobre as condições que o constituem num discurso totalitário. Ora esse é um ponto nevrálgico. Nós que andamos nos blogues estaremos a perder uma oportunidade de darmos uma identidade a este meio que utilizamos se não nos entrincheirarmos num trabalho reflexivo que seja capaz de dar conta de que nada é tão espontâneo ou natural como parece na forma totalitária como o futebol nos aparece. A primeira questão que nos devemos colocar é, como seria se o futebol não fosse uma narrativa totalitária? Como seria a nossa vida, a vida dos nossos dias? (1)
Imaginemos, até ao próximo post, uma vida sem esta presença totalitária do futebol. O que faríamos?
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(1) não disse, se não houvesse Campeonato do Mundo de Futebol. Um dos argumentos mais usados para tentar dar-nos conta da naturalidade com que o futebol assume um espaço totalitário é o de que tal é decorrente do facto de haver uma Copa do Mundo. O argumento não colhe. Tenho 44 anos o que quer dizer que já presenciei quase uma dezena de Campeonatos do Mundo e a verdade é que o trabalho de manipulação do real vem crescendo sempre .

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