sexta-feira, agosto 25, 2006

Homofobia

Durante muito tempo a seguir à morte do meu pai eu acordava durante a noite a chorar e a chamar por ele. Não me conformava. Meu querido pai, dizia. Fisicamente saio à minha mãe mas na têmpera tenho orgulho em seguir-lhe os passos. Era por isso fonte de insaciável sofrimento o sentimento de perda que me atormentava o espírito. Se estava acompanhado a pessoa que comigo dormia abraçava-me e apaziguava-me. Às vezes até fazíamos amor que é também uma forma de repacificação tremenda. O que a homofobia faz por nós: se estava só, a única coisa que me acalmava era recostar-me na cama, com os olhos pregados ao tecto - por vezes tenho a sensação de que passei assim toda a minha adolescência, com os olhos pregados no tecto - e sentir fisicamente o meu pai. A pele dele, os cabelos macios, aquele ar doce. Gostava de o beijar nas frontes. Foi um hábito que nunca perdi. Abraçá-lo e beijá-lo nos frontais. Das primeiras vezes que isto aconteceu, com os olhos pregados no tecto e toda a minha memória concentrada no meu pai fisico, lembro-me de ter sido assaltado pela dúvida: será que estou a ficar maricas?

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