quarta-feira, dezembro 06, 2006

Não se trata de em casa de ferreiro, espeto de pau. Até porque a tragédia que levou a Zé, o César, o André e a Cláudia - todos eles ligados ao jornalismo, à comunicação e aos média - foi, na generalidade, alvo de um tratamento jornalistico liberto de carga sensacionalista. E até, com carinho e simpatia, o que provavelmente se deve menos à tendência dos média para a autoreferencialidade, mais à circunstância de, em muitas das redacções dos jornais, das rádios e das televisões, haver alguém de alguma forma ligado a este trágico desastre.
O que não impediu a notícia veiculada pelo Sol. Indefensável. Uma jornalista que se dá ao luxo de "matar" o pai, a mãe e uma irmã de César de Oliveira, talvez deva ponderar no final do seu estágio abraçar um trabalho mais criativo, libertando-se da sensaboria de uma realidade que nem sempre delira connosco. Da mesma forma a edição da notícia é incompreensível. Se estes três aventureiros são o retrato do infortúnio, então atravessar uma passadeira na cidade de Lisboa talvez seja um acontecimento digno de uma tragédia grega. Como alguém escreveu, o verdadeiro infortúnio talvez seja este Sol meio pisco que nos tenta acordar para os sábados.
É claro que a reflexão talvez fique pela metade. E que mesmo assim já seja o dobro do que costumamos fazer nestes casos. Porque, descontando o sensacionalismo, que apenas desqualifica o trabalho realizado, como é que uma jornalista estagiária se sente á vontade para inventar factos tão graves como a supressão de três pessoas na vida de um dos acidentados *? Foi ela sozinha que inventou tudo? Será que isto, o completar do recolhido com o ficcionado, pode afinal ser mais frequente do que imaginamos ser possível acontecer?
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* Hesito em sentir um certo remorso. Depois do encontro no Passeio do Levante fui contactado pelo Sol e escudei-me no meu desconforto pessoal para não prestar nenhum testemunho. Hesito. Não pode ser por falta de material que uma jornalista inventa coisas. Por falta dele apenas pode, eventualmente, deixar de publicar uma notícia.

3 comentários:

IPQ disse...

é-me particularmente difícil pensar nesse artigo sem ter vontade de bater em alguém. Na sexta-feira, quando li o artigo, fiquei tão incomodada, senti um nó tão grande na garganta... é realmente vergonhoso escrever daquela forma. Ontem, para poder olhar para mim e para o meu marido e para os meus amigos jornalistas (alguns deles do Sol), adaptei o ost que tinha escrito no meu blog e enviei-o à senhora em questão.
Mas será que vai adiantar alguma coisa? Para mim, para me poder olhar como pessoa que foi jornalista, sim. Mas, e para ela? E para os que a editaram? será que fará alguma doferença? Eu também fui estagiária, também me senti algumas vezes desamparada numa redacção enorme para mim tão pequenina, onde ninguém me olhava. Muitas vezes precisei de orientação, sentia-me perdida...
Mas creio que, quase sempre, consegui pedir ajuda, perguntar onde era o norte...
Humildade, parece-me, sobretudo, haver uma grande falta de humildade nas redacções... e não há cartas indignadas que ultrapassem esse muro.

Anónimo disse...

Mas tu ainda lês o "Sol"? Que paciência...

Mafalda disse...

segundo eles, seria eu a única irmã e família de césar...enfim, enviei e-mails á dita cuja, e ela respondeu-me obviamente de forma derrotada, mas nada k se compare á nossa dor, talvez não tenha usado uma linguagem deveras muito profissional, mas escrevi o k senti... com repugnância!!vida de infortúnio, como eu disse...é aquele jornal...