sexta-feira, dezembro 22, 2006

Pergunte ao Manel. Ele sabe

Creio que já contei tantas vezes a minha primeira ( e até agora, única) experiência homossexual que nem sei se, algures por aqui, não estará já descrita. Um dia, estávamos nós no nosso sítio preferido ao pé de uma grande figueira junto do recreio da escola da minha mãe, o Manel, filho do dono da mercearia que ficava no fim da rua Domingos Machado em Mafra, e que gozava de algum ascendente social e político sobre nós - dado que era o único do grupo que já tinha andado de avião, assegurando por isso que as nuvens eram de açúcar e algodão doce- chegou ao pé do nosso grupo e disse, tal e qual:
-Dou-vos um quilo de castanha pilada se me forem ao cu.
É preciso contextualizar: devido a um segredo de família, o pai do Manel tinha as melhores castanhas piladas de Mafra. Foi só por causa disso que ele não foi corrido à pedrada pela ladeira íngreme.
Olhámo-nos contrafeitos. Não havia dúvida alguma. Todos nós preferíamos que o Manel não tivesse apresentado a sua proposta. Não aceitámos antes da escolha da metodologia. Como ninguém queria ser o primeiro, com medo de que os outros desistissem e que os rotulassem de maricas pelo menos ao correr do próximo ano lectivo, definimos o modo: seríamos todos de uma só vez, em camadas, primeiro um, depois o outro, depois o outro, assim, até ao último dos irmãos Pires, dois.
O primeiro foi o Carlos. O Manel baixou as calças e deitou-se no chão. A seguir o Carlos baixou as suas e deitou-se por cima dele. A seguir foi o Artur, que como é natural, já não baixou as suas. E assim sucessivamente. Tudo estava a correr pelo melhor dos mundos quando esta Torre de Pisa humana começa a dar de si e se desmorona caindo no chão.
É claro que ao cair o nosso ardil fora desmascarado. Todos nós estávamos de calças para cima. O Manel, que além de explorar as misérias humanas era um pequeno patife, disse logo:
- Fizeram batota. Não há castanhas piladas para ninguém.
O Carlos estava, como é natural, furioso. Era o único que tinha cumprido a preceito o combinado e não levaria nem uma castanha, já que a combinação era colectiva. O Manel desceu a ladeira que o levava à loja e nós discutíamos a estratégia para recuperar as nossas castanhas piladas. Decidimos reinvindicar o que era nosso. Entrámos na loja e dissémos: - Queremos o nosso quilo de castanha pilada.
O pai do Manel sorriu:
- O vosso quilo de castanha pilada?
- Sim. O seu filho prometeu-nos de lhe fossémos...- olhámos uns para os outros, a loja não estava cheia mas estava composta e naquele tempo o boca a boca era um rastilho veloz. Decidimos sair da loja. Não sem antes metermos as mãos no saco de sarrapilheira das castanhas piladas surripiando aquelas que cabiam na concha de uma mão, desatando a correr, fugindo do pai do Manel que, ao chegar à porta desistiu, ainda ouvindo:
-Pergunte ao Manel. Ele sabe.

4 comentários:

inominável disse...

este posts devia ganhar um prémio! está simplesmente bestial... e vim eu cá parar à procura de informações sobre o Turquemequistão... :)

na prise és bestial disse...

ah ganda jpn, este post está muito bom!

Ricardo Salvo disse...

Mas que post genial!

dizia ela baixinho disse...

hehehehehe!