sábado, fevereiro 10, 2007

Le science des rêves

Passaram meses, mesmo anos, sem sonhos. Em que apenas vivia. E comia e vivia amores a prestações. Amando o amor e nunca ninguém. Depois pensei que tinha de fazer alguma coisa para resolver esse estado crónico de não sonhar e passei a procurar os sonhos pela casa. Durmo todos os dias em divisões diferentes. Ora no chão, ora suspensa. Na marquise, na cozinha acordando com saltos no poleiro, no sofá da sala. E os sonhos recomeçaram a acontecer-me, primeiro devagar como vislumbres. Depois com a força e a realidade das paixões. Agora todas as noites os sonhos são diferentes e espero ansiosamente que sejam horas de dormir. São diferentes em cor, em espessura, em estrutura e em geografia. Esta noite convocou-se-me alguém de dias passados, alguém que me faz mudar de rua se o acaso faz com que o aviste. Éramos felizes e sem idade. Havia um elevador antigo. Uma luz de cidade apagada sobre as nossas figuras. Dávamos as mãos nesse elevador. Os olhos dele estavam cheios de claridade. Depois acordei para a sinfonia da existência, deitada no tapete do hall de entrada. Despertei para a previsão de cada nota, para a inevitabilidade dos compassos e para a ordem cirúrgica das explosões épicas. O que eu vi, por ser de manhã, foi a impossibilidade do tempo se fazer em terra redonda onde de todos os pontos de partida se poderia chegar a todos os lugares. Fossem desertos gelados, mares, cidades, florestas embrenhadas. Ou terras cálidas.

2 comentários:

JPN disse...

é um prazer poder ainda, neste blogue, descobrir-me enquanto leitor.

cbs disse...

o leitor residente?
:)