Passaram meses, mesmo anos, sem sonhos. Em que apenas vivia. E comia e vivia amores a prestações. Amando o amor e nunca ninguém.
Depois pensei que tinha de fazer alguma coisa para resolver esse estado crónico de não sonhar e passei a procurar os sonhos pela casa.
Durmo todos os dias em divisões diferentes.
Ora no chão, ora suspensa. Na marquise, na cozinha acordando com saltos no poleiro, no sofá da sala.
E os sonhos recomeçaram a acontecer-me, primeiro devagar como vislumbres. Depois com a força e a realidade das paixões.
Agora todas as noites os sonhos são diferentes e espero ansiosamente que sejam horas de dormir.
São diferentes em cor, em espessura, em estrutura e em geografia.
Esta noite convocou-se-me alguém de dias passados, alguém que me faz mudar de rua se o acaso faz com que o aviste.
Éramos felizes e sem idade. Havia um elevador antigo. Uma luz de cidade apagada sobre as nossas figuras. Dávamos as mãos nesse elevador.
Os olhos dele estavam cheios de claridade.
Depois acordei para a sinfonia da existência, deitada no tapete do hall de entrada. Despertei para a previsão de cada nota, para a inevitabilidade dos compassos e para a ordem cirúrgica das explosões épicas.
O que eu vi, por ser de manhã, foi a impossibilidade do tempo se fazer em terra redonda onde de todos os pontos de partida se poderia chegar a todos os lugares.
Fossem desertos gelados, mares, cidades, florestas embrenhadas.
Ou terras cálidas.
2 comentários:
é um prazer poder ainda, neste blogue, descobrir-me enquanto leitor.
o leitor residente?
:)
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