domingo, abril 29, 2007

Concílio de Lisboa

Deixei o catolicismo há muitos anos, pelas mãos do Exame de Consciência de Somerset Maughan primeiro, depois com ajuda de o Existencialismo é um Humanismo?, livro prefaciado e organizado por Virgilio Ferreira, teria entre treze e quinze anos. Tenho por isso um longo distanciamento das teorias, das práticas e dos próprios rituais religiosos. Mas aquele somos filhos de Jesus e de Santa Maria parecia-me algo incestuoso e com pouco rigor teológico. Por isso, honrando a formação eclesiástica de meu pai, ao vesti-lo de manhã, aproveitei para fazer um pequeno concílio para revisão da matéria biblíca:
- É verdade, tu ontem disseste que somos todos filhos de Jesus e de Santa Maria?
- Não sabe? O pai não sabe?
- O que tu queres dizer é que somos todos filhos de Deus, não é? Na história que tu me contaste Jesus é nosso irmão e Maria é sua mãe.
- Que parvoíce, pai.
- Então?
- Jesus é nosso pai, nós somos filhos de Jesus.
- Não, nessa história, Deus é o pai de Jesus através do Espírito Santo. E Maria, mulher de José, é a Nossa Senhora, mãe de Jesus.
Olhou para mim, incrédulo. E fechou a conversa, ou este breve Concílio de Lisboa:
- Quando o pai for pequeno, compreende.
Sem o saber estava à porta de uma nova enunciação da teoria da relatividade.
- Achas que eu vou ficar mais pequeno?
Pôe-me a mão no alto da cabeça e pressiona-a, para baixo:
- Eu vou crescer assim, assim, e o pai vai ficar cada vez mais pequeno.

2 comentários:

Mónica (em Campanhã) disse...

mas é que vais pficar mais pequeno, vais. não sei se nessa latura vais ver de outra forma a Sª trindade, mas que vais mingar, disso estou certa. ando obcecada com a forma como os adultos falam com os seus velhos e imagino-me muitas vezes velhota e os meus filhos a falarem comigo... e, sabes, tenho ficado mais meiga nisso.

Anónimo disse...

Quando era pequenina acreditava que não se morria, íamos apenas diminuindo de tamanho. A crença era tão fortemente enraizada que tinha imenso cuidado onde ponha os pés, não havia o diabo tecelas. Mais ou menos nessa idade, criei um hospital para as formigas, especializado para as catástrofes das cheias, examinava com uma lupa todos os insectos que nele davam entrada na esperança de no meio deles surgir um liliputiano e assim confirmar a minha tese.
Maria João