No DOC LOG, Leonor Areal transcreve "Cortes da Comissão de Censura enviados por telegrama telefonado para o Jornal de Notícias". São pequenos gestos que mostram a total arbitrariedade dos actos de censura. É claro que não se pediria um livro de estilo da Censura Prévia. O que se torna bizarro é ver que o processo de ocultação não visava apenas os proscritos do regime. Por exemplo, o Major Tártaro não se inibiu de censurar as declarações de Marcelo Caetano aos jornais. Ou as do Ministro da Economia. E as da, ao tempo, nossa sui-generis primeira-dama, a Governanta D. Maria. Chega-se ao ponto dos censores se censurarem a eles mesmos. A 9 de Setembro o Coronel Saraiva dá a indicação para que não se diga que o estado de saúde de Salazar é estacionário. O Major Tártaro umas duas semanas depois há-de indicar para a primeira página a informação de que a saúde de Salazar se encontra estacionária. E há aspectos perfeitamente bizarros: no anúncio da exportação de um milhão de gabardinas não se pode dizer que o comprador é a URSS. O acto de censura parece revelar a meticulosidade do censor, como na noticía do suicídio de uma rapariga em Soutelo, a ocultação de que isso foi depois do seu namorado ter sido mobilizado para Angola. Por outro lado há uma diferença também no estilo. Há censores mais afoitos ao autoritarimso da palavra Cortar, ou Cortar Tudo. Outros que tendem mais para o paternalismo da indicação, da recomendação, como se eles próprios editassem o jornal.
Foto: Salazar no caixão, imagem retirada do filme Brandos Costumes (1974) de Alberto Seixas Santos. Link de DOC-LOG
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