domingo, abril 08, 2007

Lua de prata

Encho-me de todas as solidões que um indíviduo chegado à idade adulta consegue suportar. A solidão-rio-de-prata. Solidão irmão-do-meio. Solidão-no-trabalho. Solidão-dor-de-corno. Solidão-lugar. Solidão-da-incompreensão. Solidão-da-palavra-não. Solidão-do-mundo. Uma noite assim, será sempre inesperada. Nenhuma destas solidões é mesmo a sério. É fado. É canção. Poderia ser, com alguma inspiração, poema. Há-de haver uma resposta quando o sol raiar de novo. E eu estarei lá. Nem que haja arco-íris. Fecho os olhos para a música, eu tenho um sonho deste pequenino: viajar um dia, inteiro, integral, para a terra da amabilidade. O resto é só e sempre ódio, de que me desaparto.

14 comentários:

j disse...

Parece que há sempre uma resposta, mesmo que chuvisque, não é? Sabes, gosto da nota de optimismo que descobres nos momentos de maior tristeza ou melancolia. Um abraço.

JPN disse...

abraço, J.

CCF disse...

Não sei bem se acontece com todos nós, mas acompanha-me desde muito cedo, muito cedo mesmo... esse sentimento de solidão como algo impossível de ultrapassar verdadeiramente...ou na palavra dos poetas:

Como é por dentro outra pessoa
Quem é que o saberá sonhar?
A alma de outrem é outro universo
Com que não há comunicação possível
com que não há verdadeiro entendimento.

Nada sabemos da alma
Senão da nossa;
as dos outros são olhares
São gestos, são palavras,
Com a suposição de qualquer semelhança
No fundo.
Fernando Pessoa

Bom, mas em nome da esperança, também me coloco à janela da solidão a sorrir aos vizinhos e de vez em quando até lhes consigo pedir salsa(amabilidade...)
~CC~

Anónimo disse...

pede-se... ou dá-se?

CCF disse...

Luísa(gosto muito deste nome...)
é mais troca...materiais por imateriais, tipo salsa por sorrisos e vice versa...isto quando se consegue!(desculpa jpn responder aqui, provavel/ a questão era para o autor do respirar...mas olha, apeteceu-me!)
~CC~

sweety disse...

"nenhuma destas solidões é mesmo a sério." é sempre a isso que me agarro. aliás, é o único pensamento que me serve de porto seguro para a vida: nenhuma destas, nem dessas, nem de outras quaisquer solidões são mesmo a sério, por isso é que é bom que haja o sol, o dia inteiro, a viagem, o arco-íris, o sonho, a amabilidade, a esperança...a vida! bjos.

JPN disse...

a resposta é de quem a dá, C. E que bem fica esta caixinha de responsos com a vossa companhia. :)

Luísa disse...

e já que não se importa, Joaquim, e porque, J., há sempre uma resposta, mesmo na maioria das vezes não seja aquela que esperamos, a questão era, CC., como as pombinhas da catrina... pena que deixei secar os meus coentros. mas ainda tenho mais sementes. dá perfeitamente para mim e para quem as quiser plantar. dou sementes e um sorriso :-) só é necessário regá-las, depois.
e, sweety, às vezes são mesmo! porque é o que somos. outras, é por ela, através da mais profunda solidão, que finalmente nos descobrimos numa co-munhão qualquer. somos e não somos. sós.
(Joaquim, desculpe o 'aluguer' do espaço, mas a casa é convidativa)

CCF disse...

:) A casa é mesmo mágica, muito bonita! Deve ser porque não vivemos sem respirar:)))
Mas Luísa, eu não acredito assim em dar sem receber...acho que também recebemos quando damos, isto aprendi com alguém do teatro há muitos anos atrás e acho ainda hoje que a razão estava com ele, por isso é que uso a ideia da troca.
Quanto aos coentros...que venham as sementes...(que coisa esta que já gosto de ti). E digo-te mais:tenho árvores pequeninas em vasos(nespereira, alfarrobeira,loureiro, oliveira...) e quando elas estiverem fortes, vou dá-las a alguém que tenha quintal(tens?) ou plantar por aí, em algum lugar com terra boa (e depois vou visitá-las). Faço-o também por mim, pelo gosto de ver alguma coisa crescer.
Abraços para vós, companheiros da solidão que é e não é.
~CC~

Luísa disse...

C., ainda sob esta casa-"lua de prata", é mesmo... quanto mais se dá, maior se fica, e mais das nossas mãos nasce.
as sementes estão ali, porque só farão sentido se germinarem. Vamos a isso... em Lisboa?
Tenho varandas e "acesso privilegiado" a uma quintinha no algarve, mas a terra é um pouco barrenta, de quase sequeiro. Será que dá?
C., vou é passar para o teu lugar... daqui pouco ainda ouvimos do dono da casa: "vou-me deitar porque estas senhoras têm de se ir embora" :-)
(Joaquim, obrigada pelo acolhimento)

JPN disse...

vou fazer um cházinho de hortelã para todos. :)

Luísa disse...

Que bela ideia! :-)
Posso trazer uns biscoitos para acompanhar... Pode ser que alguém tenha uma laricazinha.

CCF disse...

Bem, eu já tinha respondido lá na minha casa...mas como a conversa continua aqui, voltei.
Não vem assim mal ao mundo pela troca de umas sementes e plantas, a acompanhar com chá de hortelã e bolinhos (mas JPN, não precisamos de levar mais seis amigos...), embora para mim também seja estranho(diferente, direi melhor...)deixar os olhares virtuais e passar aos reais.
Maio, por causa das espigas e das papoilas?
~CC~

sweety disse...

Não há nada que pague uma em chazinho a sério, numa mesa rodeada de amigos, ou conhecidos que poderão vir a ser amigos, ou de amigos que afinal já eram e não sabiam... que seja em Maio, com espigas e papoilas, eu já me estou a fazer convidada!