sábado, maio 19, 2007

Os meus posicionamentos políticos sempre tiveram uma ambiguidade que tematiza o meu relacionamento com a actividade política: por um lado são de uma grande ingenuidade e inconsistência, devido à forte emotividade que acaba po rodear qualquer dos meus enquadramentos politicos, por outro lado têm alguma elaboração reflexiva, por causa do valor que atribuo ao pensamento enquanto actividade essencial à tomada de decisão. Tem sido assim a minha história politica e por isso os meus enquadramentos políticos mais consistentes foram os do desenquadramento, os de independente, condição que mantive durante largos períodos da minha relação, enquanto cidadão, com a política. Lembrei-me disso ao ler uma frase do Eduardo sobre o Vasco Graça Moura, "eu também gosto de defender o meu campo político e ideológico e sou capaz de o fazer mesmo na eminência de uma derrota.". O meu lado emotivo faz-me aderir de imediato a esta ideia, e não me refiro à nobreza de defender uma determinada posição mesmo sabendo que esse ponto de vista sairá derrotado politicamente, sim à de cada um defender o seu campo politico e ideológico. Mas de repente o meu lado conjectural, especulativo, coloca-me a mão do ombro e obriga-me a parar. Começo por reconhecer que antes de defender o meu campo político e ideológico, o faço porque ele me defende a mim. E defende-me de quê? Defende-me da deriva, claro. E a deriva ideológica poderá ser tão tumultuosa como uma tempestade em que se navega à bolina. Não é por acaso, no Canal Panda o Pedro acaba de ouvir, a propósito de uma história que apanhou a meio, "o teu pai morreu por causa das suas verdadeiras convicções e quando assim é a morte tem uma grande dignidade". Ou seja, este trabalho sobre a consistência ideológica começa a ser realizado desde tenra idade. Há aqui um aspecto importante a assinalar: a nossa natureza paradoxal. Por ela podemos dizer que a forma como nós nos constituímos em pensamento não é neutra. Constituimos pensamento através da constituição de campos ideológicos que depois vamos, ou não, através de rupturas ideológicas, superando. E cada um pára onde quer. De certa forma tanto podemos dizer que defendemos o nosso campo político e ideológico quando o enunciamos discursivamente, dialecticamente, em oposição a um outro determinado campo ideológico, como quando nos aventuramos na sua superação. É claro que dizer uma coisa não é a mesma coisa que dizer a outra, já que cada uma traduz um diferente modo de encarar os nossos pressupostos políticos e ideológicos.

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