De repente lembrei-me dos jogos de futebol na rua. Começavam à tarde e íam até ao momento em que a luz desvanecia os contornos da baliza. Éramos muitos. Cada campo daquele beco a que chamávamos a Rua Cidade João Belo tinha as suas subtilezas. Se jogávamos no pátio em frente ao 89 e ao 88, o campo era metade direito e metade inclinado, e metade em relva e metade em pedra da calçada. Tinhamos craques para cada tipo de piso. O Zac jogava muito bem na relva, enquanto eu e o Duarte tinhamos um truque para fazer tabelar a bola contra o muro. A pouco e pouco tudo se me aproxima. As nossas caras cada vez mais vermelhas, a estalar de rubor. O refresco que a Zaza, a irmã do Paulo Miguel do primeiro, trazia. A rua era um mistério. Hoje ao passar por ela tudo me parece pequeno. Como é que couberam ali tantos corpos a correr, e éramos mesmo muitos? Ao principio o campo estava livre. Jogávamos em cima do passeio e em cima da estrada. Depois chegavam os carros. Os nossos pais tentavam arrumar os carros de maneira a libertarem mais espaço mas mesmo assim, com o cair da tarde, o espaço minguava. A certa altura os dribles já eram com os carros. Eu era o Yazalde, porque tinha um ar meio aciganado e uma camisola verde às riscas. Aliás, eu quase nunca fui eu.
2 comentários:
Foi um post assim, cheio de ternas evocações, que te pedi um dia destes numa caixa de comentários por aqui. Não explicitei, mas podia muito bem ser este. Obrigada, e asseguro-te que há muita gente a agradecer. :)
Este respirar é, com a devida vénia ao Abel Neves, uma caixa de "Corações Piegas"! :)
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