terça-feira, julho 03, 2007

Fisica quântica

De repente lembrei-me dos jogos de futebol na rua. Começavam à tarde e íam até ao momento em que a luz desvanecia os contornos da baliza. Éramos muitos. Cada campo daquele beco a que chamávamos a Rua Cidade João Belo tinha as suas subtilezas. Se jogávamos no pátio em frente ao 89 e ao 88, o campo era metade direito e metade inclinado, e metade em relva e metade em pedra da calçada. Tinhamos craques para cada tipo de piso. O Zac jogava muito bem na relva, enquanto eu e o Duarte tinhamos um truque para fazer tabelar a bola contra o muro. A pouco e pouco tudo se me aproxima. As nossas caras cada vez mais vermelhas, a estalar de rubor. O refresco que a Zaza, a irmã do Paulo Miguel do primeiro, trazia. A rua era um mistério. Hoje ao passar por ela tudo me parece pequeno. Como é que couberam ali tantos corpos a correr, e éramos mesmo muitos? Ao principio o campo estava livre. Jogávamos em cima do passeio e em cima da estrada. Depois chegavam os carros. Os nossos pais tentavam arrumar os carros de maneira a libertarem mais espaço mas mesmo assim, com o cair da tarde, o espaço minguava. A certa altura os dribles já eram com os carros. Eu era o Yazalde, porque tinha um ar meio aciganado e uma camisola verde às riscas. Aliás, eu quase nunca fui eu.

2 comentários:

Alba disse...

Foi um post assim, cheio de ternas evocações, que te pedi um dia destes numa caixa de comentários por aqui. Não explicitei, mas podia muito bem ser este. Obrigada, e asseguro-te que há muita gente a agradecer. :)

JPN disse...

Este respirar é, com a devida vénia ao Abel Neves, uma caixa de "Corações Piegas"! :)