quarta-feira, outubro 24, 2007

Lisboa quando amanhece

Às vezes parece-me que ando por aqui a repetir este post milhares de vezes. Não era assim que eu queria dizer: às vezes parece-me que tenho a felicidade de poder escrever este post milhares de vezes. Sou de uma Lisboa que, mesmo quando desperta, acorda devagar, no gerúndio. Destapando com lentidão os rostos dos incautos que se atrevem a celebrar os dias pela manhã cedo. Ou os corpos com aquela inadaptidão para a felicidade que tropeçam nas entradas dos metros, dos autocarros, sempre há porta de qualquer coisa. Há luz no pátio. Chove, o céu está cinza mas há luz, uma luz incrível sobre o rio de prata. Mais outro ofício milionário: sou uma espécie de guarda-rios deste leito com que Lisboa beija a outra margem do Tejo. Digo que sou uma espécie de guarda-rios porque embora o vele enquanto o amo e o ame assim, velando-o, sou desprovido das asas e da penugem multicolorida de um autêntico guarda-rios.
O meu voo é este espanto, este estar aqui a deliciar-me.

1 comentário:

CCF disse...

Belo ofício o de Guarda-rios, sabes que já existiu? Se pudesse escolhia um rio para guardar e aí esgotava (ou quase) o sentido da minha vida.
~CC~