O meu tédio, é com alguma ironia que o digo. Acordei assim, a pensar, onde me vou esconder do tempo, do tempo a passar. Há muito tempo que não o sentia, o aborrecimento. E chega a ser divertido quando me dou conta de que é um acontecimento que provavelmente só irei sentir outra vez daqui a muitos anos. E dura pouco. Há hora das refeições encontro-me com outros participantes no encontro. Hoje, ao almoço, para além do meu vizinho Guarda-Rios a quem também sabe bem a planície, os participantes no espectáculo do dia, Miguel Morillo (autor e encenador) e os actores José Albarran e Tomás del Estal. Falamos sobre dramaturgia, eu dou o mote com aquela ideia da forma como as sinopses espelham diferentes realidades dramatúrgicas. Tomás del Estal foi recentemente eleito vice-presidente da Bolívia, por Steven Soderbergh (filme "Che", a estrear) sendo presidente Joaquim de Almeida. Hoje, ao sair a um café, apaixonou-se duas vezes pela mesma mulher. Falamos sobre isso, eu e ele, digo-lhe, os actores são como os marinheiros, em cada porto uma canção, em cada canção uma mulher. E nunca haverá mulheres tão belas como aquelas que vemos por uma única e derradeira vez, concluiremos mais tarde porque sim, há coisas em que há mesmo que dizer em dueto.
O meu tédio acaba por ser assim um ténue recolhimento, uma breve viagem ao tédio verdadeiro e extenso, intenso, dos tempos de outrora. Não é um aborrecimento a sério, é um, agora vou ali ao museu do tédio aborrecer-me. E é por essa pequena viagem que eu percebo que o tempo que a minha vida tem é muito maior do que eu pensava. Ela tem tantos dias e tantas horas dos quais eu nem sequer pensava que existiam.
1 comentário:
e avida dos outros então? essa então transborda de horas, minutos e segundos impensáveis
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