Se retribuo os votos de feliz natal com alguma displicência, invisto-me especialmente nos desejos de um novo ano. Comecei pelo tradicional, católico e bem comportado, um novo ano cheio de realizações e felicidades. Mas cedo comprendi que a felicidade é muito subjectiva. Há felicidades que me deixam das avessas, mal comigo e com os outros, e há infelicidades que me apaziguam o espírito. E quanto às realizações, estamos conversados. Conheço poucas pessoas que realizem de facto aquilo que deve ser feito e por isso, em quanto menos realizações se meterem melhor para nós e para o nosso mundinho. Depois adoptei o tempo como medida de grandeza. Um novo ano em grande, parecia-me bem. Viver à grande, em grande. Os sonhos não se tratam pelo diminuitivo, querem-se enormes. Andei muito tempo com este um novo ano em grande, até que o substitui por um grande ano. E colocava sempre o número do ano. Um grande 2004, um grande 2005, um grande 2006, um grande 2007. Parecia-me bem desejar que o tempo fosse enorme. Parecia-me bem imaginar que os meus amigos, aqueles de quem gosto e aqueles que amo, fossem pessoas que soubessem saborear o tempo de tal forma que ele se agigantasse diante dos relógios, das ampulhetas, do próprio sol. Porque a linguagem se mesmifica em pequenos grupos, os meus amigos, aqueles que amo, aprenderam também a saudarem deste modo simples o novo ano. Um grande 2007 andou por isso no transitivo que é o afecto, o amor. Mal sabíamos nós que a estupidez daquele final de Novembro de 2006 iria arrastar todos os dias que se lhes seguissem, alongando-os até ao limite. Para mim a primeira metade do ano de 2007 foi verdadeiramente insuportável. Cada hora parecia um mês, cada dia parecia um ano, cada semana parecia uma geração, cada mês dir-se-ía ser uma vida. Não fosse ter tido a bem aventurança de também poder olhar para o relógio do tempo pela medida de crescimento do meu pequeno peter pan, e eu não sei se hoje não estaria ainda perdido num labirinto cheio de ponteiros e maquinismos de relógios a zurzirem dentro da minha cabeça. Aprendi por isso com a lição: não há mais desejos de um grande 2008. Tal como naqueles grupos de encontro em que os sujeitos se declaram nas suas dependências várias, eu adicto, dependente da vida, da festa, da alegria, do encontro, da partilha, também desejo apenas, mais vinte e quatro horas sem morte, sem desencontro, sem ensiesmamento, sem prisão no "eu". Num fogo universal que queime, mas queime de vez a terra. E, como me dizia hoje aquela senhora que todos os dias me serve uma meia de leite e um pão de deus com manteiga e que, ao colocar-me o troco em cima do balcão acrescentou, sabe-se lá porquê, bem haja, também eu vos saúdo assim: bem hajam.
7 comentários:
bem hajas tu também.
Que perdurem, então, as coisas verdadeiramente grandes. Como um abraço, por exemplo, se for pequeno não é bom, passa depressa, é fugaz. Se for grande e demorado, o tempo suficiente para ligar os fios do(s) coração(ões), então vale a pena. Bem hajas
Bem hajas, jpn.
não sei de onde vem o haja, mas talvez seja melhor a acção, bem ajam...
Pois é, às vezes também já não sei que palavras usar, de tanto que as gastámos para desejar bem a quem gostamos. Bem hajas, jpn.
Também não sei de onde vem o “hajas”, mas desde que não fiques parado, sem te questionar se bem se mal e ajas, destemidamente partilhes, concretizes, te realizes e aproveites o balanço do que gostas para levares o que te desagrada, direi simplesmente, obrigada por existires e por seres diferença, que por vezes resvala do meu entendimento. Um grande bem-haja para ti, passado por (osmose) este enorme abraço.
Ch.A.
Também não sei de onde vem o “hajas”, mas desde que não fiques parado, sem te questionares se bem se mal e ajas, destemidamente partilhes, concretizes, te realizes e aproveites o balanço do que gostas para levares o que te desagrada, direi simplesmente, obrigada por existires e por seres diferença, que por vezes resvala do meu entendimento. Um grande bem-haja para ti, passado por (osmose) este enorme abraço.
Ch.A.
Enviar um comentário